#Mistérios |
Posted: 31 May 2017 12:32 PM PDT Tempo de leitura: 15 minutos Outro dia eu resolvi (como sempre faço) assistir um filme antigo e acabei revendo Hellraiser. O trailer estrá aqui, mas tem ele completinho no Youtube. É um filme de horror de 1987, portanto, hoje é cult. Hellraiser tem características interessantes. Além de explorar os temas sadomasoquismo, sobretudo o aspecto da dor como fonte de prazer, moralidade sob stress e do medo ele é baseado no livro “The Hellbound Heart”, do aclamado escritor britânico Clive Barker, que também veio a ser o diretor e roteirista da versão cinematográfica. Então, é basicamente como se o Tolkien saísse do caixão para fazer o roteiro e dirigir “O senhor do Anéis”. O filme deu muito certo na época e a prova disso é que sete sequências foram produzidas (uma de gosto mais duvidoso que a outra). Num resuminho bem básico, Hellraiser inicia com Frank Cotton comprando uma antiga relíquia em forma de cubo, conhecida como a Configuração do Lamento. Segundo a lenda, este cubo é capaz de abrir uma passagem para um reino de prazer sensual inimaginável. Em troca do prazer, o cubo exige a alma do usuário.
Nem preciso dizer que me deu vontade imediata de fazer uma replica da caixa do Hellraiser. Falei com alguns amigos que gostaram da ideia, quiseram também e assim iniciei a saga de construção da caixa. Meu objetivo era uma replica que fosse o mais próximo da do filme possível. Após mais de dez testes e experimentos diversos com materiais, raio laser e ácidos, finalmente consegui chegar num resultado que me agradou: Acabei usando metal de verdade, porque é o que o autor da caixa do filme usou. Na verdade o processo que usei é exatamente o mesmo dele, uma técnica chamada chemical etching. Basicamente você mascara o desenho na placa de metal e joga ela num ácido, que pode ser um ácido clorídrico, sulfúrico ou nítrico ou mesmo um oxidante como o perclorato de ferro (popularmente referenciado como “percloreto”) …Parece complicado na teoria, mas você tem que ver a merda que é na prática!
A caixa misteriosaA caixa de Lemarchand é formalmente um quebra-cabeças que apareceu nas histórias de terror do Clive Barker e também em obras baseadas em suas histórias originais. São várias caixas diferentes, mas a mais conhecida dessas caixas é a Lament Configuration. A caixa do filme, foi projetada e feita por Simon Sayce, um dos membros da equipe de arte do filme, e algo me diz que ela é uma espécie de releitura da caixa de pandora mitológica. A tal caixa de Lemarchand seria um dispositivo místico/mecânico que age como uma porta – ou uma chave para uma porta – para outra dimensão ou plano de existência, portanto, um item mágico que esperaríamos ver nas mãos do Leonard (se você não sabe quem é o Leonard, procure descobrir). A solução para o quebra-cabeças cria uma ponte através da qual os seres podem viajar em qualquer direção através deste “Cisma”. Os habitantes desses outros reinos podem parecer demoníacos para os humanos o que não necessariamente implique no fato de terem relação com Lúcifer. Um debate em curso na série de filmes é se o domínio acessado pela Configuração pretende ser a versão bíblica do Inferno, ou uma dimensão de dor e sofrimento sem fim que é original para os filmes Hellraiser. Philip Lemarchand, o tal autor da caixa, é mencionado em The Hellbound Heart como um hábil artesão, criador de “pássaros cantores mecânicos”. Segundo pesquisei, ele apareceu pela primeira vez como um personagem na série de quadrinhos Epic Comics Hellraiser e foi retratado como um homem mais velho, embora ainda criador de brinquedos e pássaros cantores. Esta versão, criada com o apoio de Clive Barker, foi um assassino em massa que usou gordura e ossos humanos na construção de suas caixas. Ele foi auxiliado por um material que lhe foi oferecido por um cenobita, conhecido como Barão. Phillip Lemarchand viveu na França pré-revolucionária. Ele foi um arquiteto, artesão e designer. Mas também apontado como um dos mais prolíficos, embora não confirmados, assassinos de sua época. Philip Lemarchand primeiro ficou conhecido pela construção de intrincadas caixas de música que rapidamente se tornaram uma febre na França. As caixas, conhecidas como Peças Lemarchand eram verdadeiras obras de arte com características, melodias e desenhos únicos. Posteriormente em 1749, o artesão começou a desenhar novas peças em forma de caixa. Os cubos, chamados de “Configurações”, eram artefatos delicados, criados com extremo talento. Eles encontraram um público seleto formado por nobres e burgueses ávidos por novidades. No ápice de sua carreira, Lemarchand era um dos artesãos mais prestigiados da França e foi contratado para construir peças que lhe trouxeram fama e fortuna. Dizem que ele teria trabalhado até para os Reis de França na criação de jóias exclusivas. Por volta de 1755, Paris foi assolada por escandalosos e inexplicáveis desaparecimentos, quase sempre envolvendo indivíduos ilustres, muitos dos quais, clientes de Lemarchand que haviam adquirido suas peças exclusivas. Suspeitas recaíram sobre o artista, especialmente depois do misterioso desaparecimento de seu aprendiz, o filho de um conceituado ourives. Lemarchand foi indiciado e aprisionado pelas autoridades que o interrogaram. Os detalhes do inquérito movido contra Lemarchand desapareceram durante o caos que se seguiu à Revolução, mas sabe-se que ele chegou a ser julgado. A despeito de uma suposta condenação, Lemarchand conseguiu escapar e segundo rumores se estabeleceu por volta de 1782 na Espanha. Em 1797, ele atravessou o canal da Mancha se refugiando em Londres. Em 1811 finalmente retornou à Paris, onde desapareceu assim como muitas de suas alegadas vítimas. Apesar de LeMarchand ter sido comparado a Giles de Rais, (este sim um genocida comprovado) nunca foram apresentadas provas contundentes que o ligassem a qualquer desaparecimento ou assassinato. O vínculo que ele tinha com uma grande quantidade de indivíduos que simplesmente sumiram sem deixar vestígios o colocavam como principal suspeito. As lendas mencionavam o fato de que o artesão dissolvia os corpos de suas vítimas em tinas de ácido no seu ateliê ou que as queimava em uma enorme lareira. Para ajudá-lo nessa sórdida tarefa ele contaria com o auxílio de comparsas, criados, ghouls e até diabretes que o serviam fielmente. As conjecturas variavam enormemente na época que Lemarchand foi acusado. O julgamento foi um acontecimento, mas a despeito de sua notoriedade, pouco se sabe de concreto sobre o homem. Quase todas as informações existentes se baseiam em rumores e especulações. A maior parte de suas construções arquitetônicas (supõe-se que eram pelo menos 15 em Paris) foram destruídas durante o período de reurbanização da cidade. Existem poucos registros documentando eventos de sua vida privada, sequer se sabe ao certo se ele foi casado e se teve herdeiros. Mesmo as suas obras de arte mais famosas, as Configurações são raras e concedem poucas informações. Sabe-se que ele nasceu em meados de 1717, foi educado na Academie Royale de Pinture et Sculpture em Paris nas primeiras décadas do século XVIII, que chegou a integrar a Maçonaria, e que ele se mudou para a Espanha e depois para a Inglaterra a fim de se livrar do estigma pela associação de suas obras com misteriosos desaparecimentos. Sabe-se que ele tinha interesse em assuntos esotéricos e que era um entusiasta de ocultismo muito em Voga no período. Os rumores na época do julgamento insinuavam que ele tinha um pacto com o demônio e que Lúcifer em pessoa havia lhe concedido talento singular. Acredita-se que o artesão construiu mais de 270 cubos antes de desaparecer. Estas peças mudavam de mãos rapidamente, ainda que colecionadores as buscassem avidamente. Lemarchand tinha a venerável idade de 94 anos quando retornou a Paris e se hospedou no L’Hotel D’Arnais no Quartier Latin, um prédio cuja planta ele próprio desenhou. Ele jamais saiu de seu quarto, recebia a comida na porta e não se ausentou dao cômodo nos três meses que ficou hospedado. Quando o gerente do hotel finalmente entrou no aposento após dias sem notícia dele, encontrou apenas a mobília, e uma das Configurações depositada sobre uma poça de sangue. Talvez tenha sido um fim adequado, juntar-se ao mistério daqueles que desapareceram. O nome de Lemarchand ainda é citado pelos entusiastas de seu brilhante trabalho como artesão e arquiteto. Alguns prédios projetados por ele ainda estão de pé na parte antiga da cidade e uma luta para reconhecer o valor histórico arquitetônico de suas obras está em curso. Lemarchand contudo será lembrado pelas suas Configurações. Ocultistas de renome como Austin Osman Spare, Eliaphas Levi, A.E Waite e Aleister Crowley mencionaram em algum momento de suas obras os cubos criados por Lemarchand como poderosos artefatos dotados de poder oculto. Muitas figuras na história teriam tido contato com Configurações. Voltaire foi presenteado com uma das peças, assim como Benjamin Franklin que em sua visita a Paris recebeu um cubo que tratou de levar para a América. Francis Dashwood, o fundador do célebre Clube do Inferno teria adquirido um cubo que foi usado em rituais nas catacumbas de Edimburgo. O Conde de St. Germain por um curto período de tempo teve uma configuração presenteada a Catarina da Rússia pouco antes dela assumir o poder. O Czar Nicolau II teria adquirido essa mesma peça pouco antes da Revolução Bolchevique, e Stalin foi seu último dono. O cineasta Cecil B. Demille se orgulhava de ter um cubo em sua coleção, assim como o dono da Standart Oil, Nelson Rockfeller que doou a sua peça para o Museu Smithsonian. O arquiteto do nazismo Albert Speer vasculhou Paris em busca de peças Lemarchand e após a Segunda Guerra rumores a respeito de peças surgindo e desaparecendo circularam sem parar. O interesse de colecionadores em todo o mundo ainda é grande no que se refere às peças exclusivas de Lemarchand. Talvez o interesse despertado por elas esteja abaixo apenas das peças do designer Fabergé. Para se ter uma ideia uma configuração construída em 1764 foi vendida na Tailândia em um leilão fechado em 1998. O objeto foi arrematado por um colecionador cuja identidade não foi revelada pela quantia de dois milhões e meio de dólares. Uma magia chamada Elegia Yantra![]() Acredita-se que Philip LeMarchand tenha obtido acesso a uma biblioteca maçônica localizada em Paris em 1748. Eles completaram sua pesquisa sobre os mistérios da Elegia Yantra. Não se sabe se ele estava em busca de desenvolver sua versão do yantra, ou apenas buscando compreender suas origens, usos e, mais importante, seus projetos de superfície geométrica. Um Yantra é um instrumento religioso hinduísta que se diz ter uma vida própria. Dizem que são Deva/Devi (deuses / deusas) de forma geométrica ou padronizada. LeMarchand estudou esses dispositivos durante o tempo de sua primeira criação de caixa de quebra-cabeça, “The Lament Configuration ” . A influência do yantra pode ser vista em quase todas as ![]()
LeMarchand nos filmesO filme Hellraiser: Bloodline , escrito vários anos depois, retrata o personagem tanto menos moralmente repreensível. Nesta versão, Lemarchand é um jovem e engenhoso fabricante de brinquedos conhecido por seus intrincados desenhos mecânicos. O personagem Paul Merchant diz no filme que o Lament Configuration foi encomendado a Lemarchand pelo Duc de L’Isle em 1784. Outras caixas de Lemarchand aparecem em toda a série de filmes Hellraiser. Lembro que lá pelos anos 90, quando eu frequentava um centro cultural chamado Além da Imaginação, que era repleto de pessoas interessantes e de um nível intelectual muito, muito acima das pessoas normais, um conhecido de lá me falou sobre o filme e sobre as tais caixas. Segundo me recordo, ele havia dito que Clive teria escrito o primeiro livro baseado num antigo conto francês, da virada do século, que de alguma forma chegou às mãos dele. Esse conto, não era um conto, mas um relato místico e portanto real, de uma sociedade secreta onde um artesão francês especializado em caixas de musica viaja até a Índia afim de aperfeiçoar sua técnica. É lá na Índia que ele descobre – sabe-se lá como – uma maneira de converter uma caixa de musica em uma espécie de item magico capaz de criar um portão multidimensional. As histórias estão cheias desses itens capazes de abrir portões para o desconhecido, e seja realidade ou mito ou ambos, o fato é que não raro, a abertura de portões traz consigo um problema adicional. Se você vai daqui pra lá, quem está lá vem pra cá. E nem sempre isso é uma boa ideia. Aliás, nunca é. Existem também pessoas que acreditam que Philip LeMarchand é real e que as caixas existem. Inclusive eu li num blog obscuro que há quem acredite que o LeMarchand teria obtido a caixa que deu origem às outras de um alquimista chamado Albertus Magnus que teria trazido o conhecimento da Índia. De uma certa forma, parece que em algum ponto as histórias se misturam dando uma bela base para nos esquinarmos ate que ponto esse cara era ficcional ou não. Eu sei que entubei a história que meu amigo me falou porque achei ela bem viável, e passei a ver Hellraiser com outros olhos. É verdade que histórias desse tipo sempre fazem a nossa cabeça, porque de uma certa forma, ideias como “caixas que jamais devem ser abertas” são parte da nossa constituição mítica, com isso aparecendo desde a mitologia grega, na Bíblia até as mais primitivas crenças indígenas. Se há algo de real nisso tudo, talvez possa ser esse aspecto mitológico, sem o qual não somos quem somos. Ou não. Seja como for, sempre tenha cuidado com caixas feitas por caras chamados Philipe.
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Choro garantido: O filme mais triste de todos os tempos Posted: 31 May 2017 10:37 AM PDT Tempo de leitura: 8 minutos Pode parecer estranho, mas um bom indicador de qualidade de uma obra cinematográfica é conseguir fazer a plateia chorar. Obviamente que não apenas isso, mas qualquer resposta emocional do público, em termos de cinema é considerado um golaço, porque no cinema, todo um conjunto de artes que vão de interpretação, escrita, musica e fotografia entre outras, se unem para efetivamente conseguir agarrar o espectador e imergi-lo em uma história. Se eventualmente essa história conseguir provocar um estado emocional como o choro no público, então é um sinal claro e observável, portanto quantificável da capacidade da união dessas artes em afetar as pessoas. Perceba que eu não estou dizendo que um filme que não te faz chorar ou rir ou ficar com medo ou angustiado é ruim. Mas é fato que o público de um modo geral interpreta uma condução de seu estado emocional como sendo uma qualidade adicional numa obra de cinema. E é justamente por sua capacidade de influir no estado emocional das pessoas que o cinema é usado para uma coisa que você pode nem acreditar: Estudos cerebrais. Muitas vezes, neurocientistas se vêem diante da complexa tarefa de realizar estudos em que precisam desencadear emoções específicas nos seus pacientes de modo que precisam quantificar certas atuações de conjuntos específicos de grupos neurais. Esses estudos nos conduzem a diversos conhecimentos adicionais do cérebro, que abrem portas para tratamentos mais diversos, seja ajudar na recuperação de pessoas que sofreram Acidentes vasculares cerebrais, seja no aperfeiçoamento de medicamentos contra a depressão, seja o estudo de neurotransmissores para entender o poder destrutivo de certas drogas. Assim, eventualmente um cientista precisa infligir sofrimento nas “cobaias” afim de entender no que de fato esse sofrimento se traduz na mecânica cerebral. E foi graças a essa estranha necessidade, de achar algo que seja efetivamente garantido em fazer neguinho sentir vontade de chorar que se chegou a outra estranha constatação: O filme mais triste do mundo é um filme de porrada. Mas antes de falar sobre como um filme de luta consegue desgraçar uma pessoa de tanto chorar, é preciso saber como se chegou a essa conclusão. A aventura pela busca do filme mais triste do mundo começou quando James Gross, um estudante de graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley, e seu professor de Psicologia, Robert Levenson, resolveram se unir afim de descobrir que cenas de filme iriam fazer as pessoas sentirem a emoção mais poderosa. Parece fácil, mas é uma tarefa difícil pra dedéu! Uma vez levantada essa seleção suprema das mais poderosas cenas emocionais, eles passaram a exibir as 76 cenas para 500 estudantes de Berkeley. Depois de cada clipe, os alunos precisavam preencher uma breve pesquisa dizendo quais as emoções que sentiram ao assistir, e quão intensamente eles sentiram essas emoções. A partir desses resultados, Levenson e Gross tabularam um score que lhes permitiu identificar 16 filmes que se mostraram os mais eficazes dentro do lote inicial, que já era cabuloso. E foi assim que surgiu o filme mais triste da face da Terra: Dirigido por um mestre, Franco Zefirelli: O campeão, de 1979. Nesse filme, o pai da Angelina Jolie, Jon Voight, é uma estrela de boxe na amargura, que sobe de volta ao ringue na esperança de dar ao seu adorável filho, TJ, um futuro melhor. De fato, Levenson e Gross descobriram que ” The Champ” era, bem, o campeão de nocautear os telespectadores. Mais alunos relataram sentir tristeza depois de observar o final do filme do que eles sentiram depois de assistir a qualquer um dos outros 75 filmes. No segundo lugar ficou a morte da mãe do Bambi. Mas como “O campeão” consegue isso? SpoilerBilly Flynn, (Voight) é um ex- campeão de boxe, agora um treinador de cavalos em Hialeah, Flórida. Ele ganha apenas o dinheiro suficiente para criar seu filho filho TJ, de quem Flynn tem custódia total desde que sua esposa Annie o deixou, sete anos antes dos eventos do filme. TJ adora o pai, “The Champ”, que tem dívidas de jogo e começa a trabalhar mais na tentativa de dar a seu filho um futuro melhor. De repente, Annie aparece novamente e quer tornar-se parte da vida de TJ na marra. Billy está em dívida, então decide fazer o retorno do boxe. Ele espera que ele possa ganhar dinheiro suficiente para dar uma vida melhor a TJ. Assim, eles caem na estrada, e Billy consegue pegar alguns combates de boxe. No entanto, suas vidas estão viradas de cabeça para baixo quando Annie aparece e diz que quer recuperar a custódia. Depois de se casar novamente, ela agora está bem de vida. Billy se vê diante da missão difícil de precisar ganhar dinheiro o suficiente para vencer a batalha nos tribunais e não perder a guarda do filho. Assim, ele vai de cabeça numa forte rotina de treinamento, para manter TJ e ganhar seu respeito. TJ gasta algum tempo com Annie, e ela tenta o comprar com presentes caros com os quais Billy não pode competir. Billy está ressentido de ter cuidado com TJ durante todos esses anos e ela simplesmente aparece querendo a guarda da criança. O filme termina com Billy aceitando um confronto de boxe para tentar o prêmio em dinheiro, mas seu oponente é formidável. Billy ganha no final e todos no vestiário, incluindo TJ, ficam exultantes. Mas sua vitória vem a um preço: Billy morre ali mesmo. A razão pelo qual esse filme consegue fazer chorar está escondido em sua mecânica. Na obra, passamos o filme inteiro nos solidarizando com um homem que se vê abandonado com uma criança, com o desejo de TJ de ver seu pai finalmente como um campeão. No fundo, trata-se de não perder o pai. E é justamente o que acontece! Tudo parece conduzir a obra num sentido de superação e o publico pré-estrutura sua mente para esperar o conforto do desenlace do conflito, onde o pai finalmente vence, pode ficar com TJ, celebra e tudo se organiza. Mas eis que as coisas não são bem assim. Jon Voight de fato ganha a grande luta contra todas as probabilidades, mas numa trágica reviravolta do destino ele morre de repente em seu camarim logo após a luta. Na cena final, e mais dolorosa do filme, o pequeno TJ chora desesperado agarrado ao corpo sem vida de seu pai, chorando e chamando: “Champ, Champ! Acorde Champ! E ele não acorda, obviamente. Essa frustração dramática final conduz a um estado de empatia absoluta com o menino e um misto na sensação de desesperança diante de um menino que perde seu pai e seu ídolo numa tacada só. O desafio da luta se torna uma metáfora da vida adulta, de modo que a morte do campeão gera uma nova frustração quando se desenlaça o conflito principal. Ao se conectar afetivamente com o pai, o público sente a dor de deixar um filho sozinho no mundo, E também de ver que ele venceu a batalha, mas perdeu a guerra. Mas é a conexão afetiva com TJ que produz o pior dos sentimentos humanos, de certa forma, um sentimento primal e ancestral, que é o do desamparo. Se liga na cena final: “O campeão” foi tão bem sucedido em induzir uma resposta emocional aguda que depois de Levenson e Gross publicarem suas descobertas em 1995 , estudos de diversas ciências o usaram para fazer exatamente isso. Uma pesquisa por palavra-chave no Google Scholar aponta mais de 4.000 estudos que, por uma razão ou outra, precisavam de assuntos tristes e se voltaram para “The Champ” para fazer o trabalho. O post Choro garantido: O filme mais triste de todos os tempos foi criado no blog Mundo Gump. |
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