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Laerte-se e a Careca do Will Eisner Posted: 23 May 2017 06:19 AM PDT Tempo de leitura: 7 minutos Ontem por acaso assisti ao documentário Laerte-se que tem no Netflix. Laerte é o cartunista que declarou-se uma mulher transgênero quando já era um homem de meia-idade. Havia se casado – e se separado – três vezes. Já tinha três filhos quando resolveu que agora seria uma mulher. ![]() Então eu fui animado para ver esse documentário, não apenas por ser fã do que ele já fez, mas por imaginar o que ele planeja para o futuro. Decepção total e absoluta. Entenda, não tenho absolutamente NADA a ver com o fato do Laerte resolver virar uma mulher depois do terrível evento da morte do filho dele. Eu sou fã do artista, e se ele se considera homem, mulher, sapo, cadeira, robô ou alien, estou – desculpe a franqueza – cagando. Não me interessa, não me diz respeito e de certa forma até me constrange saber como ele se depila ou que batom ele usa.
O melhor momento desse documentário é quando o próprio Laerte parece dar um toque, “estou me repetindo. Estou falando do que eu já falei”. A grosso modo, é como pegar um documentário sobre o Stephen King e passar mais de uma hora vendo ele elucubrar sobre o fato de ser praticamente cego, e falar de forma absolutamente superficial sobre o que realmente interessa a todo mundo, seus livros, sua arte, seu processo criativo. Você acaba e fica com um gosto de: “Porra, fui iludido nessa merda!” Laerte-se é assim, é o caminho fácil, é o óbvio, é a apelação quase panfletária da causa Gay, da causa transsexual, do papel social… Coisa que daria para fazer com QUALQUER outro homem que resolve mudar de gênero.
Inclusive mostra uma exposição dele e essa parte se limita a um lance dele sendo abraçado por fãs e dizendo que se considera uma fraude (um caso típico da síndrome do impostor) que corresponde a essa autopercepção pela qual uma pessoa se considera menos qualificada para uma determinada função, cargo ou desempenho que seus companheiros, e percebe sua criação como cheia de defeitos e problemas aos quais teme que em algum momento alguém perceba sua imperfeição. Obviamente que tudo isso é decorrente de um complexo de inferioridade que pode ter raízes profundas e inclusive ser um elemento constituidor daquele indivíduo, como as figurinhas feias que ninguém gosta, mas que querendo ou não, são uma parte integrante de um álbum de figurinhas, e sem as quais, ele nunca será efetivamente completo. Aliás, isso é um aspecto da personalidade absolutamente corriqueiro na ampla maioria dos artistas. Mas de volta ao Laerte-se, a melhor coisa desse documentário é a animação de algumas poucas tirinhas, e ainda assim, tudo nesse contexto do conflito dessa imagem/gênero que tragou a vida dele para um loop eterno. É inegável que essas questões são importantes para ele e por isso transbordam no seu trabalho.
Mas e a virada no trabalho que ele deu, mudando brutalmente não apenas a estética como sua atuação profissional? Limitado e monodimensional, o filme fala pouco ou praticamente nada nessa mudança no trabalho dele e o próprio Laerte dá a deixa perfeita para que isso seja explorado, mas a direção não morde a isca, não vai nesse sentido apesar da deixa. Ela se foca na questão da imagem, o que é curioso na medida em que o início do filme mostra Laerte meio que queixoso, meio inconformado com isso, e apesar de relutar se entrega, (mais de corpo que de alma) ao exibicionismo de sua nova sexualidade. Mesmo a parte que todo mundo sabe, que é o fato do Laerte sempre ter sido comunista, membro do partidão, ilustrador para a Cut, e outros sindicatos nem sequer é explorado, é dado um viés modernoso, quase de cima do muro, que um incauto poderia olhar e até pensar que Laerte é de centro. Então é isso, não é o documentário que eu gostaria de ver e não faz jus ao protagonista, mas atende a um certo público. Pra quem sabe da existência dele mais pela Revista Caras do que pela revista Circo, ele serve bem. O post Laerte-se e a Careca do Will Eisner foi criado no blog Mundo Gump. |
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