#Brasil |
- Dinheiro repassado pela Odebrecht a políticos investigados bancaria mais de 1 milhão de cestas básicas e 45 escolas
- Odebrecht diz ter pago R$ 7 milhões para aprovar medida provisória no Congresso
- BJ diz que Estado do Rio de Janeiro era 'Casa de Doidos'
- Duda Mendonça procurou Emílio Odebrecht para cobrar dívida de campanha de Skaf
- Ex-governador, petista recebeu R$ 12 milhões em propinas e relógio de R$ 60 mil, dizem delatores
- Odebrecht pagou R$ 5,1 mi em propina para destravar transposição do São Francisco
- Fraudes em licitações e cobrança de propina dominaram obras no DF
- Delator diz que Everaldo Pereira teve propina para favorecer Aécio
- Executivo de empreiteira entrega planilha com doações de R$ 246 mi de caixa 2
- Os crimes associados ao caixa 2 e por que, geralmente, quem acaba pagando a conta é você
- Dilma diz que acusações são 'virtuais' e que não sabia que Cunha era "corrupto" e Temer "fraco"
- Delator entrega planilhas sobre campanhas de Alckmin
- Odebrecht pagava "tribo" e "barbudos" da CUT na floresta
- Temer quer acelerar agenda de reformas, mas base admite risco após lista da Odebrecht
- Odebrecht tinha esquema com dragagem no Rio Madeira
- Helder Barbalho defende-se de delator sobre doações
- Delações reforçam investigações sobre quadrilha entre PT, PMDB e PP
- Helder Barbalho chegou a pedir R$ 30 mi, diz delator
- Deputado Ônyx tinha apelido de "inimigo" pela Odebrecht
- Inquéritos apuram propinas de R$ 190 mi em obras
Posted: 14 Apr 2017 08:25 PM PDT ![]() Dinheiro destinado aos políticos citados pelos delatores da Odebrecht bancaria 481 mil salários mínimos de R$ 937 Thinkstock As delações dos 77 executivos da Odebrecht apontaram para o pagamento de R$ 451,049 milhões aos políticos investigados nos inquéritos abertos pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal). Com os valores repassados pelo esquema de corrupção aos nomes presentes na lista de investigados seria possível realizar obras de infraestrutura no País e promover ações em prol da população mais carente. Na área da saúde, o valor destinado pela Odebrecht seria suficiente para a construção de três hospitais como o de Parelheiros, orçado em R$ 148,3 milhões. Ao ser inaugurado, o empreendimento, que esta em obras na zona sul de São Paulo, deve contar com 250 leitos de internação, 20 salas de UTI, Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico, Centro de Imagem e Diagnóstico, Pronto Socorro Adulto e Pediátrico. O dinheiro repassado aos investigados também construiria 112 novas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) com capacidade para atender 350 pacientes por dia. Delações reforçam investigações sobre quadrilha entre PT, PMDB e PP No âmbito social, o dinheiro destinado aos políticos citados pelos delatores da Odebrecht bancaria 481 mil salários mínimos de R$ 937. Também seria possível usar a grana para distribuir mais de 1 milhão de cestas básicas na cidade de Porto Alegre, que possuí, segundo os dados mais recentes do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o conjunto de alimentos essenciais mais caro do País. A educação, por sua vez, poderia ter sido beneficiada com a construção de 45 escolas com o custo de R$ 10 milhões cada e com a instalação de 180 creches equipadas. Ao todo, os 76 pedidos de abertura de inquérito autorizados por Fachin envolvem oito ministros, 24 senadores, 39 deputados e três governadores. O PT conta com o maior número de políticos investigados (20), seguido pelo PMDB (16), PSDB (13) e PP (9). |
Odebrecht diz ter pago R$ 7 milhões para aprovar medida provisória no Congresso Posted: 14 Apr 2017 03:25 PM PDT Eunício Oliveira: atual presidente do Senado teria recebido mais de R$ 2 milhões, segundo planilhas da Odebrecht apresentadas pelos delatores Marcos Brandão/07.02.2017/Senado Federal Os depoimentos das delações premiadas de ex-executivos da Odebrecht, revelados após a liberação do sigilo dos inquéritos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), apontam que a empresa não apenas fazia pagamento de caixa 2 para campanhas eleitorais dos principais partidos políticos, mas também agia durante a tramitação de medidas de interesse da empreiteira no Congresso Nacional. Para conseguir aprovar uma medida provisória em 2013, a empreiteira diz ter pago R$ 7 milhões a parlamentares. Entre os beneficiários estariam os atuais presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Além dos senadores do PMDB Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR) e o deputado Lúcio Viera Lima (BA), também da sigla. A medida provisória aprovada reduz a cobrança de impostos no setor químico, beneficiando economicamente a empresa Braskem, do grupo Odebrecht. O ex-executivo da empreteira Cláudio Melo Filho, em delação, disse que não tratou diretamente com o presidente do Senado, mas com um suposto intermediário. "A gente recebe uma pessoa e essa pessoa vem falar também desse repasse que estava sendo feito de R$ 2 milhões e pouco. E a gente veio saber que essa pessoa era um preposto do senador Eunício Oliveira. Eu não tratei nada com o senador Eunício Oliveira, assim como não tratei nada com o senador Renan Calheiros, mas há esse direcionamento", afirmou Melo Filho. O atual presidente do Senado teria recebido mais de R$ 2 milhões, segundo planilhas da Odebrecht apresentadas pelos delatores. Já Rodrigo Maia teria recebido R$ 100 mil. Em nota, Eunício Oliveira diz que usará o amplo direito de defesa e que a Justiça brasileira tem maturidade para "separar verdades de mentiras ou versões alternativas". Os demais citados na reportagem também negaram o recebimento de vantagem indevida. O presidente da Câmara ainda será investigado em um outro inquérito. Em delação premiada, o ex-executivo Benedicto Júnior disse que pagou, a pedido de Rodrigo Maia, R$ 950 mil para as campanhas eleitorais do partido Democratas em 2008 e 2010. O ex-funcionário da Odebrecht alegou que a intenção da empresa era manter uma relação próxima de Maia e do pai dele, César Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro. "Essas duas pessoas tinham um poder de influência no sistema político do Rio de Janeiro muito grande. Era objetivamente ter uma relação próxima e de confiança com o Rodrigo e o César", explicou. O delator afirma que os recursos não foram declarados à Justiça, o que configuraria caixa 2. Rodrigo Maia afirmou que são falsas as citações dos delatores e que confia que os inquéritos serão arquivados. O presidente da Câmara também afirmou confiar na Justiça e na Polícia Federal. |
BJ diz que Estado do Rio de Janeiro era 'Casa de Doidos' Posted: 14 Apr 2017 03:15 PM PDT Em função da grande quantidade de demandas e políticos a serem atendidos ao mesmo tempo pelo Setor de Operações Estruturadas, o famoso "departamento de propinas" da Odebrecht, a construtora deu à conta destinada a "pagamentos extemporâneos" ao Estado do Rio a rubrica "Casa de Doidos". A revelação é do executivo da Odebrecht Benedicto da Silva Júnior, em delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato. "Tinha esse nome porque a gente dizia que o Rio de Janeiro era uma Casa de Doidos. Era uma conta que se usava para pagar várias coisas ao mesmo tempo", disse. "Era uma rubrica para pagar coisas extemporâneas", explicou Silva Júnior, conhecido como BJ. Quando falou da "Casa de Doidos", BJ explicava os pagamentos que, segundo ele, foram realizados ao ex-secretários de Transportes do Rio Júlio Lopes. Segundo o executivo, Lopes recebeu em 2013 mais de R$ 6,5 milhões por meio de três codinomes. Foram R$ 1.105.900 na cota "Pavão", R$ 2.259.000 para "Velho" e outros R$ 3.170.420 na rubrica "Casa de Doidos", segundo BJ. Os pagamentos foram feitos naquele ano, segundo o delator, para garantir que Júlio Lopes "não criasse problema" nas obras de construção da linha 2 do Metrô do Estado. "Aqui o que posso assegurar ao sr. é que o que ele acabou fazendo foi não gerar nenhum problema a gestão do dia a dia do Metrô linha 2, que era a coisa mais importante que estava acontecendo no Rio de Janeiro", disse ao procurador da República que tomou seu depoimento. Ele também relatou pagamentos em 2008 e em 2012 a serem repassados ao PP para que a legenda se mantivesse na base de apoio do PMDB. Júlio Lopes é descrito por Benedicto Júnior como a "extensão dos braços" do hoje vice-governador do Rio, Francisco Dornelles. Na planilha que apresentou como "prova de corroboração" de sua delação, BJ relata o pagamento de R$ 246,6 milhões, via caixa 2, a políticos de diversos partidos e Estados entre os anos de 2008 e 2014.Entre eles estão quatro ex-governadores do Rio e o atual mandatário do Executivo fluminense, Luiz Fernando Pezão, e dois ex-prefeitos da capital, César Maia e Eduardo Paes, além do presidente da Assembleia Legislativa do Estado Jorge Picciani. Todos os citados por Benedicto negam irregularidades. A reportagem procurou o deputado Júlio Lopes, mas não obteve resposta. O espaço está aberto para sua manifestação. |
Duda Mendonça procurou Emílio Odebrecht para cobrar dívida de campanha de Skaf Posted: 14 Apr 2017 02:09 PM PDT ![]() Duda Mendonça e Paulo Skaf em 2014 durante intervalo de debate com candidatos ao governo de São Paulo Fabio Braga/Folhapress Um mês depois da Operação Lava Jato deflagrar a 14ª fase, batizada de Erma Omnes (do latim, vale para todos), e levar para a cadeia Marcelo Bahia Odebrecht, o presidente do maior grupo empresarial do cartel que corrompia agentes públicos e políticos em troca de contratos na Petrobras, o publicitário Duda Mendonça procurou o patriarca da família, Emílio Odebrecht, para receber um dívida de R$ 9,6 milhões da campanha de 2014 do candidato ao governo de São Paulo Paulo Skaf (PMDB). "Logo que Marcelo foi preso, eu fui procurado pelo Duda Mendonça que tinha relação comigo, ele chegou para mim e disse: tem aí um compromisso da Odebrecht comigo, Marcelo não está mais aí, não sei como está isso na organização , eu estou sem cliente na organização e quero receber aquilo que tenho a receber e eu tenho direito a receber e foi acertado", relatou o delator Emílio Odebrecht, aos procuradores da Lava Jato, no dia 14 de dezembro de 2016. Duda Mendonça, que tenta fechar um acordo de delação com a força-tarefa, é alvo da "Lista de Fachin" - pacote de inquéritos e petições de investigações criminais determinadas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, relator da Lava Jato. "De fato foi um programa de campanha que ele era o recebedor disso. Eu mandei o pessoal verificar se tinha essa dívida, tinha essa dívida, e aí tinha sido encontrada uma solução para pagar a dívida via um terreno que ele tinha no Sul da Bahia, perto da praia, que era uma forma de buscar valorizar esse terreno e, com isso, ele receberia o dinheiro que ele tinha (direito)", detalhou Emílio. O procurador da República Sérgio Bruno, da equipe da Lava Jato na PGR (Procuradoria Geral da República), questionou se o terreno seria superfaturado e a diferença seria o valor da dívida. Emílio confirmou a tese em seu depoimento do Termo 20, parte do anexo 20 da delação. Lula "Eu mandei devolver o terreno", disse. A operação de compra superfaturada do terreno de Duda, no entanto, chegou a ser montada - mas não executada - e envolvia a construtora baiana DAG, do empresário Demerval Gusmão, amigo de Marcelo Odebrecht. A empresa é a mesma que serviu para a compra do terreno de R$ 12 milhões, em São Paulo, que, segundo as delações, seria dado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser a sede do Instituto Lula. "O meu papel foi ser cobrado de Duda, saber que era um negócio ligado a caixa 2 em campanha. Como eu já tinha a decisão de anular (os pagamentos ilícitos), não tinha mais, desfaz-se o negócio." O valor devido a Duda Mendonça, segundo investigadores da Lava Jato, tem relação com os R$ 10 milhões acertados em 2014 por Marcelo Odebrecht com o presidente Michel Temer (PMDB) - à época, vice - e o ministro Eliseu Padilha, no Palácio do Jaburu, dos quais R$ 6 milhões seriam destinados à campanha de Paulo Skaf em São Paulo, à pedido do empreiteiro. Emílio disse não saber qual era o valor que a Odebrecht tinha com Duda Mendonça. Sua defesa, no entanto, entregou como documento de prova de corroboração do que fala o delator um contrato fictício entre a empresa e o publicitário, assinado em janeiro de 2015, para serviço de consultoria de "gestão de crise" no valor de R$ 9,6 milhões. O caso não envolve alvos com foro privilegiado e foi enviado para a Justiça Federal no Paraná, onde o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro definirá se pede para a Polícia Federal apurar o caso. |
Ex-governador, petista recebeu R$ 12 milhões em propinas e relógio de R$ 60 mil, dizem delatores Posted: 14 Apr 2017 01:49 PM PDT Delatores da Odebrecht revelaram ao Ministério Público Federal que a empreiteira presenteou o ex-ministro do governo Dilma Jaques Wagner com relógios de luxo, propinas de R$ 12 milhões em dinheiro vivo e caixa dois. Nas planilhas do departamento de propinas da Odebrecht, o petista era o Polo, segundo os executivos, por ter trabalhado no polo petroquímico de Camaçari, como técnico de manutenção, nos anos 70. Durante o mandato entre 2006 e 2010 à frente do governo da Bahia delatores da Odebrecht apontaram trocas de favores entre o governador e a empreiteira Wilson Dias/Agência Brasil De candidato desacreditado pela maior empreiteira do País, em 2006, Jaques Wagner, que também governou a Bahia, alcançou, por meio de trocas de favores usando o governo estadual baiano, não apenas apoio político a ele e a aliados, mas também relação pessoal com os donos e diretores da construtora, segundo relataram delatores da Odebrecht — entre eles, Marcelo, o ex-presidente. A primeira campanha ao governo do Estado de Jaques Wagner financiada pela empreiteira foi em 2006. À época, o diretor Cláudio Melo Filho diz ter recebido um pedido do petista para marcar um almoço, que teria acontecido no restaurante Convento, em Brasília, com a presença de Marcelo Odebrecht. Na ocasião, o candidato pediu apoio financeiro ao então presidente da empreiteira. De acordo com o delator, Marcelo concordou, embora tenha demonstrado incômodo por não acreditar no sucesso de sua candidatura. "Esta ajuda financeira foi direcionada por Marcelo Odebrecht para o Diretor Superintendente da Bahia à época, Alexandre Barradas. Acredito que tenham ocorrido pagamentos de até R$ 3 milhões de forma oficial e via Caixa 2. O meu apoio interno foi essencial para que esse pagamento ocorresse", afirmou Cláudio Melo Filho. Durante o mandato entre 2006 e 2010 à frente do governo da Bahia delatores da Odebrecht apontaram trocas de favores entre o governador e a empreiteira. Uma das tratativas foi sobre créditos pendentes do ICMS do governo do Estado da Bahia com a Braskem, pertencente ao grupo Odebrecht. De acordo com delatores, o acúmulo do valor a ser ressarcido chegou aos R$ 620 milhões em 2008. Em delação premiada, Carlos José Fadigas relatou que o então presidente da Braskem negociou sobre o tema diretamente com Jaques Wagner. Segundo o executivo, o governador concordou em reduzir o ICMS sobre matérias primas da Braskem, permitindo na prática, que a companhia pudesse reaver o crédito de ICMS que ela tinha com o Estado. Um decreto sobre o benefício fiscal à empresa foi assinado pelo próprio Jaques Wagner. A Odebrecht ainda teria se comprometido, no primeiro mandato de Jaques Wagner, a pagar um litígio trabalhista com o sindicato da indústria química. De acordo com Carlos José Fadigas, em delação premiada, a Braskem teria financiado a candidatura do governador do estado à reeleição, em 2010. Ele relatou ter encontrado no sistema "Drousys", por meio do qual se controlava os repasses do "departamento de propinas" da empreiteira, um pagamento de R$ 12 milhões em nome de um codinome "OPAIÓ". Ao fim do primeiro mandato, segundo o executivo Cláudio Melo Filho, Jaques Wagner foi qualificado como beneficiário de melhores recebimentos financeiros da empreiteira pela atenção demonstrada a assuntos de interesse da Odebrecht. "O próprio Jacques Wagner fez questão de encaminhar esse pedido de apoio financeiro mais qualificado, apoiando-se na cuidadosa atenção que demonstrou aos nossos pleitos ao longo do seu primeiro mandato como governador da Bahia", relata o delator. Somente entre 2010 e 2011, Jaques Wagner teria recebido, por meio do codinome Polo, R$ 12 milhões do departamento de propinas da Odebrecht. As vantagens indevidas pagas pela Odebrecht a políticos eram operacionalizadas pelo Setor de Operações Estruturadas. O diretor do "departamento de propinas", Hilberto Mascarenhas, confirmou ao Ministério Público Federal pagamentos de R$ 1 milhão dinheiro vivo ao ex-governador da Bahia, em 2010. A primeira parcela, de R$ 500 mil, teria sido enviada à casa da mãe de Jaques Wagner. "Por algum problema dele com a mãe, ele não queria mais que fosse usada a casa da mãe dele. Fizemos um esforço grande e conseguimos pagar por meio de um preposto dele, Carlos Dalto. Ele me ligou, marcamos a data, o local e eu mandei o preposto pagar", afirmou o executivo. Tamanha era a amizade entre o governador e a empreiteira, que, no segundo mandato, quando fazia aniversário, Jaques Wagner recebia presentes de luxo. Em delação premiada, o diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho afirmou que executivos da empreiteira deram um relógio de US$ 20 mil (mais de R$ 60 mil) e outro de US$ 4 mil (cerca de R$ 12 mil). "Quando do aniversário de Jacques Wagner em março de 2012, foi dado um relógio Hublot, modelo Oscar Niemeyer. Em outro aniversário, que não me recordo o ano, também foi enviado relógio da marca Corum, modelo Admirals Cup. Esses presentes foram entregues junto com um cartão assinado por Marcelo Odebrecht, eu e André Vital". Reeleito em 2010, Jaques Wagner teria continuado a rotina de tratativas com a Odebrecht. Durante este mandato, foi construída na Bahia a Arena Fonte Nova, para receber Copa do Mundo. O estádio sofreu com atrasos e foi inaugurado somente no dia 7 de abril, quando o prazo inicial para a entrega era 28 de fevereiro de 2013. Diante das cobranças da Fifa a respeito da Arena, o consórcio, formado por OAS e Odebrecht, teve de acelerar as obras, o que gerou gastos extras. Delatores apontaram que Jaques Wagner teve receio de fazer um aditivo de contrato para cobrir os gastos, para evitar atrair atenções ao preço da obra, mas teria sugerido uma solução heterodoxa. Após tratativas, a Odebrecht teria acertado, em reuniões com Wagner, que o governo estadual poderia compensar a empreiteira por meio do pagamento de uma dívida judicial do Estado com a empreiteira. O valor pendente, de mais de R$ 1 bilhão, em valores atualizados segundo os delatores, envolvia uma ação contra a Companhia de Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos da Bahia. Sem solução até as vésperas das eleições de 2014, o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo, afirmou ao Ministério Público Federal que já havia concordado em não financiar o então candidato apadrinhado por Jaques Wagner, Rui Costa, do PT. No entanto, o assunto acabou sendo resolvido pouco antes das eleições. A empreiteira teria aceitado receber R$ 290 milhões, dentre os quais R$ 30 milhões seriam posteriormente destinados ao PT nas três eleições seguintes, segundo os delatores da Odebrecht. "Como decorrência da solução deste problema, foi feita contribuição à campanha do Governo da Bahia em 2014, acertada por Claudio Melo Filho, em alinhamento com André Vital", relatou Marcelo Odebrecht. O Diretor Superintendente da Odebrecht na Bahia, André Vital, confirmou ao Ministério Público Federal que a empreiteira teria se utilizado da Cervejaria Itaipava para fazer uma doação de R$ 5 milhões à campanha de Rui Costa, do PT, ao governo da Bahia, após o acerto de contas. Defesa O ex-ministro do governo Dilma e ex-governador da Bahia tem reiteradamente negado envolvimento em qualquer ato ilícitos. |
Odebrecht pagou R$ 5,1 mi em propina para destravar transposição do São Francisco Posted: 14 Apr 2017 12:09 PM PDT ![]() Canal de transposição do eixo leste do rio São Francisco Eduardo Knapp/Folhapress A Odebrecht pagou R$ 5,1 milhões em suborno e caixa dois a quatro políticos nordestinos para destravar as obras do Canal do Sertão, trecho da Transposição do Rio São Francisco. Conforme os depoimentos de seis delatores, os valores foram repassados ao ex-governador de Alagoas Teotônio Vilela Filho (R$ 2,8 milhões), do PSDB; ao senador e ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho (R$ 1,05 milhão), do PSB; e ao senador Renan Calheiros (R$ 500 mil), do PMDB. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também considera que uma doação oficial de R$ 829 mil à campanha do governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), em 2014 foi propina envolvendo os interesses da empreiteira no projeto. O Hotel Radisson, à beira-mar de Maceió, foi o palco de alguns dos encontros para acertar os pagamentos, segundo o relato dos depoentes. Ali Renan Calheiros se reuniu com o funcionário da Odebrecht Ariel Parente. "Relatei a ele que a empresa estava destinando R$ 250 mil, em duas parcelas, fazendo o total de R$ 500 mil. Não me recordo se ele indicou alguma pessoa da confiança dele para receber. Me recordo que ele não ficou satisfeito com o valor. Me transmitiu essa insatisfação achando que estava pouco", relatou o executivo, em depoimento à Procuradoria-Geral da República. Parente explicou que os R$ 500 mil seriam pagos como caixa dois, por fora de doação oficial ao então candidato ao Senado. Contou que Renan "queria mais" e cobrou "1 milhão e tanto". Diante da reclamação, submeteu o problema para seus superiores. O senador alega que nunca participou de nenhum encontro com Parente. O ex-diretor da Odebrecht no Nordeste João Pacífico confirmou o pagamento, em duas parcelas, em agosto e setembro de 2010, dos R$ 500 mil. Ele apresentou planilhas como comprovação. Pacífico explicou que o caixa dois a Renan naquele ano visava à ajuda dele para liberar a obra do Canal do Sertão, um dos trechos da Transposição do Rio São Francisco. Pacífico afirmou que, embora Renan estivesse rompido com o então governador Teotônio Vilela Filho (PSDB), o peemedebista era um político nacional e tinha influência no Ministério da Integração Nacional. "Se, porventura, a gente precisasse de apoio dele, a gente poderia utilizá-lo", justificou. A quantia foi disponibilizada pelo Grupo Odebrecht por intermédio de operação não contabilizada e registrada pelo Setor de Operações Estruturadas no sistema "Drousys". O executivo explicou que a Odebrecht obteve o contrato na transposição em 2010, mas a execução ficou suspensa até 2013, por falta de recursos. O "agrado" a Renan, segundo ele, também objetivava conquistar o apoio dele em eventuais pleitos futuros. "Era mais para que a gente pudesse dar a notícia, primeiro em nome da companhia, e também porque poderia haver uma demanda. Então, a gente se antecipou", comentou. Bezerra "Quando eu fui saber do ministro Fernando Bezerra qual era a dotação orçamentária, ele disse: 'vou me candidatar em 2014 ao Senado e preciso de uma ajuda de campanha", afirmou. "Eu fui lá para saber o orçamento referente à obra. Depois que ele me disse que o valor de 2013 não seria significativo, porque a obra só começou no meio do ano, mas em outros anos deveria ter, foi quando disse 'eu vou me candidatar e preciso de um valor em contribuição: R$ 1 milhão'", acrescentou. No pedido de abertura de inquérito, o procurador-geral Rodrigo Janot diz que a solicitação de Bezerra Coelho "foi atendida por meio de pagamentos viabilizados pelo Setor de Operações Estruturadas". O montante, em espécie, segundo os colaboradores, foi entregue a um intermediário de Bezerra. O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior confirmou os repasses. Segundo os delatores, os valores pagos a Teotônio Vilela Filho e a dois de seus auxiliares somaram R$ 2,8 milhões, em 2014. Pacífico contou que os repasses foram acertados pelo próprio governador e sua equipe no hotel, que teriam ameaçado rescindir o contrato, caso os valores não fossem feitos. A Odebrecht, por fim, teria cedido ao achaque. "As condutas acima narradas não se tratam de mera doação eleitoral irregular. Vislumbra-se, na verdade, uma solicitação indevida em razão da função pública que se almeja, a pretexto de campanha eleitoral. Por esta razão, há fortes indícios de que se está diante de crimes graves que precisam ser minuciosamente investigados", afirmou Janot sobre as doações a Vilela, a Bezerra e ao senador Renan. Defesas Fernando Bezerra Coelho, também por meio de sua assessoria, alegou que não participou nem da licitação nem da contratação da obra do Canal do Sertão Alagoano, "ambas ocorridas em 2009 - ou seja, dois anos antes de o senador chegar ao Ministério da Integração Nacional". "Ao assumir o ministério, Fernando Bezerra solicitou a manifestação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a conformidade do contrato. Com a orientação do TCU, foram feitos ajustes no referido contrato e a obra foi retomada no final da gestão de Fernando Bezerra, em 2013. O parlamentar reforça que todas as contas da campanha dele ao Senado foram devidamente apresentadas e aprovadas pela Justiça Eleitoral", explicou. Renan Filho sustenta que todas as doações recebidas durante a campanha ocorreram dentro da lei e foram devidamente declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral." A reportagem não conseguiu contato com Teotônio Vilela Filho. |
Fraudes em licitações e cobrança de propina dominaram obras no DF Posted: 14 Apr 2017 11:56 AM PDT Andrade Gutierrez queria vencer o leilão do Mané Garrincha e chamou a Odebrecht para simular uma concorrência pelo projeto Divulgação/Portal da Copa/ME Da construção do Estádio Mané Garrincha, um dos estádios mais caros do País, passando pelo projeto do BRT que cortaria o Plano Piloto de Brasília, até a sede de R$ 6 bilhões para centralizar o governo do Distrito Federal e seus 13 mil servidores, tudo foi alvo de fraude no processo licitatório, com combinações de preços e pagamentos de propina para executar as obras. As afirmações foram feitas pelos delatores e ex-executivos da Odebrecht, Ricardo Roth Ferraz e João Antônio Pacífico. Havia uma combinação constante entre a Odebrecht e a Andrade Gutierrez sobre que venceria determinada licitação, relevaram os delatores. A Andrade queria vencer o leilão do Mané Garrincha. Para simular uma concorrência, chamou a Odebrecht para oferecer um valor maior pelo projeto. Dessa forma, a Andrade venceu. Em contrapartida, a Odebrecht queria assumir as obras da Arena Pernambuco. Foi a vez de a Andrade oferecer uma proposta bem mais cara, para que a Odebrecht vencesse o leilão. A mesma simulação foi realizada no projeto do BRT que cortaria a Asa Sul de Brasília, ligando o aeroporto à região central da cidade. A Odebrecht não tinha interesse na obra, mas simulou uma concorrência, segundo Ricardo Roth Ferraz, "a título de boa vizinhança". A oferta combinada é conhecida entre os integrantes do cartel como "cobertura da licitação". Houve também combinação de interessados, de acordo com os delatores, na construção do Centrad (Centro Administrativo do Distrito Federal), erguido para centralizar a gestão pública do Distrito Federal. Além do acerto entre os concorrentes, a escolha dos vencedores teria envolvido ainda pagamento de propina para o então governador Agnelo Queiroz (PT) e para o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB). Segundo o delator João Antônio Pacífico, a Odebrecht teria negociado o pagamento de R$ 15 milhões para Agnelo e Filippelli, com o propósito de acelerar a ocupação do Centrad. O local de 182 mil metros quadrados está com parte de sua estrutura pronta há dois anos, sem nunca ter sido utilizada. Cerca R$ 1 bilhão em investimentos já foram aplicados na estrutura. No ano seguinte, mais precisamente no dia 31 de dezembro de 2014, o então governador Agnelo Queiroz, no último dia de seu mandato, foi até o Centro Administrativo do DF e disse que a estrutura estava inaugurada, sem haver, contudo, nenhum tipo de estrutura de escritório disponível, como mobília, rede de telefonia ou equipamentos de informática. Naquela mesma ocasião, a gestão Agnelo tratou de liberar o Habite-se do projeto. Em janeiro de 2015, uma liminar da 4ª Vara de Fazenda Pública do DF suspendeu a carta de Habite-se do empreendimento. O Estado não conseguiu até o momento localizar o ex-governador Agnelo Queiroz e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli para que pudessem se posicionar sobre as acusações dos delatores. |
Delator diz que Everaldo Pereira teve propina para favorecer Aécio Posted: 14 Apr 2017 11:47 AM PDT Aécio Neves em debate à presidência no ano de 2014 Eduardo Anizelli/Folhapress Fernando Reis, ex-diretor da Odebrecht Ambiental, afirmou em depoimento que, na campanha presidencial de 2014, pediu ao então candidato a presidente Pastor Everaldo (PSC) que ajudasse o candidato Aécio Neves (PSDB) no debate eleitoral do primeiro turno. De acordo com Reis, a intenção era que o tucano tivesse mais tempo para expor suas ideias e, assim pudesse chegar ao segundo turno. O executivo não esclareceu se Aécio tinha conhecimento do pedido feito a Pastor Everaldo. Ele ainda disse que, analisando o debate dos presidenciáveis no primeiro turno, é possível perceber que o Pastor "fez perguntas simples, inócuas, para que o candidato Aécio pudesse ter tempo na televisão." Essa orientação foi dada depois que a candidatura de Pastor Everaldo perdeu fôlego. Quando Marina Silva herdou a candidatura de Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo, o eleitorado de Pastor Everaldo, formado em grande parte por evangélicos, migrou para ela. "Ele já entendia que a candidatura dele tinha terminado. Então, como a gente se sentia de alguma forma credor por ter contribuído tanto para a campanha dele, eu sugeri a ele que usasse o tempo do debate sempre pra perguntar ao candidato Aécio", detalhou Reis. Diversos repasses foram autorizados por Reis para a campanha de Everaldo, via caixa dois, a partir do fim de 2013. O valor total chega a aproximadamente R$ 6 milhões, segundo o delator. Os pagamentos foram feitos a Rogério Vargas, que costumava acompanhar Pastor Everaldo nas reuniões com os executivos da Odebrecht. A delação também menciona pagamentos feitos ao então candidato do PSC por meio de Vargas. O delator contou à Procuradoria que um dos pagamentos, no valor de R$ 1 milhão, foi feito em duas parcelas de R$ 500 mil. "Nesse caso específico, pelo que me recordo, esse pagamento seria feito no escritório do senhor Rogério Vargas", disse. O Pastor Everaldo disse em nota que "todas as doações recebidas pela sua campanha, em 2014, obedeceram à legislação vigente". Afirmou ainda que confia na Justiça e que "obrigará as pessoas envolvidas em acordos de colaboração a comprovar as supostas acusações." Em nota, o PSDB reitera que Aécio não tinha informações sobre doações feitas pela Odebrecht a outras campanhas e que nas delações executivos da Odebrecht disseram que o senador não recebeu contribuições e que doações eleitorais não tiveram nenhuma contrapartida. Leia abaixo a íntegra da nota: NOTA - Assessoria PSDB Sabidamente a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff foi a principal beneficiada com recursos da empresa Odebrecht em 2014. Marcelo Odebrecht informou o pagamento de pelo menos R$ 150 milhões para a campanha da ex-presidente. O candidato do PSDB Aécio Neves participou de todos os debates, realizados ao vivo e testemunhados por milhões de brasileiros, respondendo a perguntas de todos os seus adversários na campanha. Ele não tinha informações sobre doações feitas pela Odebrecht a outras campanhas. Registramos ainda que, em suas delações, Marcelo Odebrecht e Benedicto Júnior afirmaram que o candidato do PSDB não recebeu uma contribuição da empresa no valor de R$ 15 milhões porque se recusou a receber recursos no exterior. Na delação, Marcelo declarou também que doações eleitorais feitas ao senador Aécio Neves não tiveram qualquer tipo de contrapartida. Assessoria do PSDB |
Executivo de empreiteira entrega planilha com doações de R$ 246 mi de caixa 2 Posted: 14 Apr 2017 11:26 AM PDT Investigadores suspeitam que muitos políticos receberam da enpreiteira durante períodos que não disputaram eleição BBC Brasil O executivo Benedicto Júnior, o BJ, delator da Odebrecht, entregou à Operação Lava Jato uma planilha com doações de R$ 246.612.801,00 de caixa 2 a 187 políticos do alto escalão e também do baixo clero. A farta distribuição de dinheiro ilícito atingiu os mais importantes partidos entre 2008 e 2014 e seus caciques. Os investigadores suspeitam que parte dos valores repassados a título de doação de caixa 2, na verdade, era propina. Muitos políticos receberam em períodos que não disputaram eleição. O documento reúne apenas os repasses tratados por BJ. Nele não há referência a campanhas presidenciais, missão exclusiva de Marcelo Odebrecht, ex-presidente do Grupo. Na Lista de BJ estão o ministro da Casa Civil Eliseu Padilha (PMDB), o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o governador e São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o ministro Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSD-SP) e o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). A planilha de BJ é dividida em onze colunas: Index — com o número de políticos que teriam recebido repasse —, Ano, Cargo, Estado/Município, Codinome, Nome, Intermediário do Político, Doação Caixa 2, Propósito, Pessoa de Contato e Observação. Eliseu Padilha foi beneficiário de oito repasses que totalizaram R$ 7,2 milhões, destinados à sua campanha para deputado federal em 2014. Codinome: 'Angorá'. Outro ministro do governo Temer, Moreira Franco (Secretaria da Presidência), recebeu R$ 4 milhões em três vezes em 2014. Segundo BJ, o intermediário dos repasses a Moreira 'Primo' Franco foi Eliseu Padilha. Aécio, o 'Mineirinho', segundo a Lista de BJ, recebeu R$ 5,25 milhões de doação em caixa 2 para sua campanha ao Senado em 2010 em cinco transferências. Sem intermediários. A Antonio Anastasia, codinome 'Dengo', foi atribuído o valor total de R$ 5,475 milhões para campanha de 2010 ao Governo de Minas. Foram 8 repasses ao tucano, hoje senador. Para Anthony Garotinho foram 35 repasses no total de R$ 13,012 milhões, sob os codinomes 'Bolinha' e 'Pescador', para as eleições de 2008, 2010, 2012 e 2014. A candidatura de Beto Richa (PSDB) ao Governo do Paraná, em 2010 recebeu, de acordo com a Lista de BJ, 5 transferência no montante total de R$ 900 mil. Fernando Ghignone foi apontado como intermediário. Sob codinome 'Nervosinho', Eduardo Paes foi contemplado com 23 pagamentos que somaram R$ 16,120 milhões em doação por caixa 2, segundo BJ. Os repasses ocorreram em 2008, 2010, 2012 e 2014. Geraldo Alckmin foi beneficiado em duas eleições, de acordo com a Lista de BJ: 2010 e 2014 quando se candidatou a governador. Neste período, foram 20 repasses, sob os codinomes 'Belém' e 'M&M', no total de R$ 9,6 milhões. De acordo com o delator, os intermediários de Alckmin foram Adhemar Ribeiro, seu cunhado, e Marco Monteiro, tesoureiro da campanha de 2014. O vice de Alckmin, Márcio França, em 2010, sob codinome 'Paris', R$ 70 mil. Para Gilberto Kassab foram 26 transferências em 2008 e 2014 sob os codinomes 'Kibe', 'Chefe Turco' e 'Projeto'. O total: R$ 21.251.676,00. Sérgio Cabral (PMDB) recebeu 41 transferência de doação a caixa 2 sob o codinome 'Proximus'. Total: R$ 61.996.800,00. O sucessor de Cabral, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), também 'Proximus', levou R$ 20,3 milhões em 2014. |
Os crimes associados ao caixa 2 e por que, geralmente, quem acaba pagando a conta é você Posted: 14 Apr 2017 11:09 AM PDT Especialistas afirmam que o Caixa 2 nunca aparece sozinho e costuma estar muito mal acompanhado BBC Brasil De sonegação fiscal a lavagem de dinheiro, de evasão de divisas a corrupção, de compra de votos a barganhas para fraudar licitações, o caixa 2, onipresente no noticiário da operação Lava-Jato, encobre uma série de outros crimes. Quando alguém disser que faz "só" caixa 2, desconfie: ele quase nunca aparece sozinho, pelo contrário, costuma estar muito mal acompanhado. E, quase sempre, quem paga a conta é o cidadão, como avaliam especialistas ouvidos pela BBC Brasil. Para começar do começo, caixa 2 é o nome popular para qualquer contabilidade paralela - não declarar receitas ou despesas, o que se caracteriza originalmente como um crime tributário e configura sonegação de impostos. Pessoas e empresas que omitem transações para driblar o Leão e pagar menos imposto de renda cometem sonegação fiscal. Muitas vezes, porém, a intenção de quem esconde renda, mais que ludibriar o Fisco, é esconder a origem ilícita do dinheiro. É o caso de negócios ilegais, sejam eles o contrabando, o tráfico de drogas ou a venda de armas e até de bebidas durante um período de Lei Seca. Uma empresa que tem atuação legal, mas também pratica atos ilícitos - contrabando, por exemplo - não irá declarar a renda obtida dessas atividades. E assim o caixa 2 começa sua rotina de associação criminosa. Se, para pagar menos impostos, uma empresa com atividade lícita mantém dinheiro num paraíso fiscal no exterior e não informa à Receita Federal, aparece outro crime que costuma acompanhar o caixa 2: a evasão de divisas. Mandar dinheiro para o exterior não é ilegal, mas fazer isso sem declarar é. Por fim, quando o dinheiro resultante de uma atividade ilícita de uma pessoa ou empresa é colocado no sistema econômico do país de forma legal, outro crime toma forma, a lavagem de dinheiro. O termo "lavagem" vem justamente desta ideia de tornar "limpo" um dinheiro de origem suja. Propinas As investigações da Lava Jato e as delações de executivos e ex-executivos do grupo Odebrecht confirmam, numa proporção maior, o que outras investigações ao longo dos anos apontaram: empresas que têm atividades lícitas, como as construtoras, constituem um enorme caixa 2 não só para sonegar imposto, mas para custear despesas que não podem ser (ou simplesmente não são) declaradas, seja pela ilegalidade da origem, ou porque se quer mantê-las sob sigilo, como no caso de doações a partidos e políticos para financiamento de campanha. O termo caixa 2 quando aplicado a este tipo de financiamento também diz respeito ao fato do político ou partido ter optado por não revelar o montante recebido ou a fonte doadora. Estes casos são classificados pela Justiça como crime eleitoral, podendo ser punido com até cinco anos de prisão (artigo 350 do Código Eleitoral). De acordo com informações reveladas pela Lava Jato, nem sempre o recebedor da "doação" usa o dinheiro para financiar gastos de campanha. Muitos usaram a verba recebida para adquirir bens pessoais e financiar um estilo de vida de alto luxo. Nestes casos, o caixa 2 encobre o simples pagamento de um suborno ou propina a quem, por exemplo, "ajudou" uma empreiteira a vencer uma licitação pública. Era o caso do Rio: segundo as investigações da Lava-Jato, a taxa de propina era de 5% do valor de todo os contratos com o Estado, e o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), hoje preso, teria comandado o esquema de desvio de verbas. Heuler Andrey/AFP Segundo a Lava Jato, dinheiro desviado pagou despesas pessoais de Cunha Ciranda de possibilidades Na política, o caixa 2 vai se desdobrando em uma ciranda de possibilidades, explica o procurador regional da República Rogério Nascimento, membro do Conselho Nacional de Justiça e ex-procurador eleitoral do Rio de Janeiro. Por que um candidato não declararia receitas e doações recebidas por sua campanha? De novo, é possível pensar na origem ilícita dos recursos: o dinheiro pode ter vindo de uma atividade ilegal, que não pode ser informada, como milícia ou tráfico. Mas o dinheiro pode ser originário de uma empresa legalmente constituída que mantém uma offshore num paraíso fiscal sem passar pela Receita, o que traz de volta o crime de evasão de divisas. Por vezes, o doador é que é "ilícito": entidades que mantêm contratos com o poder público não podem fazer doações eleitorais. Ou o valor da doação é tão alto que não pode aparecer, para não caracterizar abuso do poder econômico na campanha. Há também casos em que doadores optam pelo anonimato porque irão pagar "despesas" ilícitas, como compra de votos ou apoio político. A Lava Jato tem sido pródiga em exemplos de doações eleitorais não contabilizadas, do R$ 1,5 milhão para a campanha do hoje ministro Helder Barbalho (Integração Nacional) ao governo do Pará em 2014 aos R$ 12 milhões que teriam ido para a campanha do hoje ministro da Agricultura Blairo Maggi (o "Caldo", segundo codinome mencionado pelos delatores) ao governo de Mato Grosso em 2006. O artigo 350 do Código Eleitoral tipifica como crime de falsidade ideológica eleitoral omitir ou dar qualquer informação errada sobre a campanha, inclusive sobre receitas. Como a pena é considerada mais leve, muitas vezes os partidos admitem logo o crime eleitoral para tentar se livrar de acusações como corrupção e formação de organização criminosa. No pacote de medidas de combate à corrupção que tramita no Congresso há sugestão de tipificar o crime de caixa 2 eleitoral de modo específico, já que atualmente a expressão não consta da Lei Eleitoral. Pagamentos ocultos que encobrem o próprio mecanismo da corrupção são o coração da Lava Jato. Aqui se enquadram as propinas e os subornos resultantes de negociatas em contratos públicos, com pagamentos feitos em dinheiro vivo ou sob a forma de benesses, como aulas de tênis, viagens e joias. De acordo com a Lava Jato, foi o dinheiro desviado da Petrobras que alimentou contas secretas na Suíça do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, bancando despesas da família, de aulas de tênis a cursos de MBA no exterior. "Há quem veja diferença entre aquele que recebe algo particular, como um carro, e aquele que age tentando beneficiar o partido. Considero até mais grave quem age para beneficiar o partido, porque isso interfere no processo eleitoral como um todo e desrespeita a democracia", diz Nascimento. O procurador avalia que a Lava Jato se diferencia de outras operações realizadas até agora pela sua amplitude, ao mostrar a extensão do caixa 2, e pelo desvendamento de um sistema de financiamento ilícito no qual a doação eleitoral faz parte do esquema de negociatas da corrupção. Escopo do crime Nascimento situa a Lava Jato como beneficiária de modificações recentes em três leis: a nova lei de lavagem de dinheiro, que ampliou o escopo do crime; a de organização criminosa, que detalhou o procedimento de colaboração premiada; e a lei anticorrupção, que permitiu punir não só pessoas físicas, mas empresas envolvidas em casos de corrupção. No contexto internacional, vê como fundamental a maior cooperação internacional em casos de lavagem de dinheiro e o avanço da tecnologia de informação, permitindo o uso de grandes bancos de dados. Professor de Direito Penal da FGV Direito Rio, Thiago Bottino destaca, no escopo da Lava Jato, os crimes configurados quando uma empresa "paga" favores ao político em dinheiro vivo - que pode ser usado para pagar funcionários, viajar, fazer supermercado ou comprar joias, como supostamente fazia o ex-governador do Rio Sérgio Cabral. Joias e quadros são um estratagema comum nos esquemas criminosos, pois permitem transformar o dinheiro em bens de valor alto, que não se desvalorizam e são relativamente fáceis de guardar. Bottino resume em quatro as formas pelas quais a doação eleitoral e o caixa 2 se conectam: 1) Origem de recursos ilegal e doação ilegal: acontece quando o tráfico ou a milícia doa para uma campanha, ou quando, após fraudar uma licitação, uma empresa "paga" ao político em dinheiro vivo, sem declarar; 2) Origem ilegal e doação legal: alguém obtém recursos de forma ilícita, em contrabando, por exemplo, mas faz uma doação a uma campanha e o candidato relata isso na prestação de contas (sem detalhar de onde vem o dinheiro); 3) Origem legal dos recursos, doados a uma campanha de modo oculto: prática comum quando o doador prefere manter suas preferências em segredo; 4) Origem legal dos recursos, com doação formalmente declarada: esta é a única possibilidade realmente correta de fazer doações de campanha. "Quando a origem dos recursos é ilegal, mas entra na campanha de forma declarada, temos o curioso caso em que o caixa 2 aparece no caixa 1. A ilegalidade, porém, persiste, já que a origem do dinheiro é criminosa", afirma o professor, lembrando que a doação eleitoral ainda tem o benefício de ser isenta de impostos. Bottino e Nascimento destacam o papel central dos paraísos fiscais no organograma sistêmico e globalizado de caixa 2 e corrupção. Só no paraíso fiscal é possível ter ao mesmo tempo imposto menor, dificuldades na quebra de sigilo bancário e empresas cujos donos são mantidos em segredo. A OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico), entidade composta por 34 países, está implementando o plano BEPS (sigla para Base Erosion and Profit Shifting Action Plan), projeto que busca apoio dos países para mudar as leis tributárias internacionais e combater o envio - e o desvio - de recursos para paraísos fiscais. |
Dilma diz que acusações são 'virtuais' e que não sabia que Cunha era "corrupto" e Temer "fraco" Posted: 14 Apr 2017 10:39 AM PDT ![]() Dilma Rousseff: "Não vou compactuar com o fórum de julgamento da imprensa antes de o julgamento ser realizado" Roberto Stuckert Filho/PR "Como é que você prova que eu sabia?", pergunta Dilma Rousseff, encarando a reportagem em um apartamento com vista para o rio Hudson, em Nova York (EUA), onde estava em visita uma série de universidades para palestras e entrevistas. No encontro com a BBC Brasil na última quarta-feira, 360 dias depois da Câmara dos Deputados aprovar o processo que levou a seu impeachment, Dilma se referia às acusações de Marcelo Odebrecht na operação Lava Jato, usadas no fim do mês passado como argumento para o pedido de cassação de sua chapa de 2014, junto ao agora presidente Michel Temer. Se a chapa for cassada, em julgamento ainda sem previsão para ocorrer, tanto Dilma quanto Temer podem perder seus direitos políticos. "Esses milhões (em caixa 2) só estão na virtualidade da fala do Dr. Marcelo Odebrecht, não estão em nenhuma realidade", diz. "É uma acusação muito característica das que fazem a mim. Que tipo de acusação?", ela mesma pergunta. E se responde: "Ah, ela sabia." Na manhã do dia seguinte à divulgação da chamada "lista de Fachin", que ordenou investigações contra oito ministros, 63 congressistas e três governadores citados nas delações da Odebrecht, a ex-presidente se recusa a comentar os pedidos de abertura de novos inquéritos envolvendo seu nome (ao lado dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva). — Eu me nego a comentar qualquer coisa, sobre qualquer pessoa que foi mencionada na lista, porque não acho correto. Não vou compactuar com o fórum de julgamento da imprensa antes de o julgamento ser realizado. Durante a entrevista, que alterna momentos de irritação e sorrisos, a reportagem consegue completar apenas 14 de 29 tentativas de perguntas a Dilma. Após quase uma hora, depois de afirmar que não sabia que Eduardo Cunha era corrupto e declarar, sobre o aborto, que "não é papel da Presidência discutir propostas do movimento de mulheres", Dilma faz nova interrupção e uma referência, bem-humorada, ao juiz Sergio Moro, que dera entrevista à BBC Brasil dois dias antes. Na ocasião, passados cinco minutos, Moro disse que a reportagem teria "só mais uma pergunta, depois encerra". "Agora eu não estou dando uma de nenhum juiz que você entrevistou", diz. — Eu quero que você encerre, porque eu estou aqui há uma hora já. Milhões em caixa 2 de campanha citados por Marcelo Odebrecht em delação "estão na virtualidade", segundo Dilma BBC Brasil "Acusações virtuais" Segundo a imprensa nacional, o Ministério Público Eleitoral acusa a campanha de Dilma por suposto recebimento de R$ 112 milhões da Odebrecht — R$ 45 milhões em caixa 2, R$ 17 milhões em "caixa 3" e R$ 50 milhões em propina. À BBC Brasil, Dilma nega irregularidades. "Você tem hoje uma acusação virtual, dizendo que tinha uma conta corrente virtual, conta corrente virtual essa que, por todos os dados que ele (Marcelo Odebrecht) mesmo diz, incluindo os registros formais, vamos dizer, no TSE, não se verificam", afirma. Dilma continua: "Em que pese que há pessoas avaliando que receber dinheiro em contas secretas, na Suíça, não é tão grave, quero dizer o seguinte: nunca recebi contas no exterior, não tem um único delator que possa dizer que me deu qualquer quantia, de que forma seja. Não recebi por meio de parente, por meio de terceiras pessoas. A acusação contra mim sempre vai ser: 'Ah, ela sabia'. Por que sabia? 'Por que tinha que saber'." No último dia 4, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) suspendeu o julgamento que pede a cassação da chapa presidencial eleita em 2014, formada por Dilma Rousseff e Michel Temer. O tribunal decidiu por unanimidade reabrir a fase de produção de provas para ouvir novas testemunhas. Com isso, o processo pode levar semanas para ser retomado. O ministro relator do caso, Herman Benjamin, concordou com a decisão, embora antes tenha negado pedidos semelhantes da defesa de Dilma. "Eu quero muito ver essa acusação. Quero ver porque vou desconstitui-la", diz. "Acho que os mecanismos pelos quais a Odebrecht faz a delação, principalmente o senhor Marcelo, têm por objetivo montar a sua defesa, o que é absolutamente normal, a pessoa não tem que se incriminar", diz a ex-presidente. Lista de Fachin A reportagem tenta perguntar sobre a menção a Dilma na lista do ministro Fachin, do Supremo Tribunal Federal. Dilma aparece em dois pedidos de abertura de inquéritos encaminhados pelo STF a tribunais de primeira e segunda instância. Nem ela, nem Lula (com cinco inquéritos), nem FHC (com um) têm foro privilegiado, o que significa que terão seus casos avaliados pela Justiça comum. Os objetos de investigação contra os ex-presidentes não foram divulgados. BBC Brasil: "Ontem, a lista do..." Dilma Rousseff: "Eu não falo sobre o que foi dito ontem, eu não sei. A hora em que eu chegar lá e ler tudo, eu te digo. Antes disso eu não falo, não." BBC Brasil: "O nome da senhora apareceu na lista do STF, ao lado de FHC..." Dilma Rousseff: "Querido, você está absolutamente equivocado. Meu nome, nem o do FHC, nem o do Lula apareceu ontem na lista porque nós não temos foro privilegiado." BBC Brasil: "Eu ia completar a minha pergunta...", responde a reportagem. Dilma Rousseff: "Mas não apareceu ainda", replica Dilma, criticando o que classifica como "assassinato de reputações" promovido pela imprensa antes de julgamentos na Justiça. Para a ex-presidente, a imprensa tenta se colocar no lugar de tribunais ao expor conteúdos sigilosos obtidos por meio de fontes e vazamentos. Ela afirma que veículos de comunicação seriam irresponsáveis ao divulgar informações que, posteriormente, podem não ser confirmadas. "A mídia não é instância de julgamento quando se trata de crime. Não é possível. A mídia pode até relatar. Agora, eu não concordo em comentar isso mesmo que seja de adversários políticos meus", afirma a ex-presidente, questionada se a presença de políticos como o senador Aécio Neves e o chanceler Aloysio Nunes Ferreira, ambos do PSDB, não enfraquece seu discurso de seletividade da Lava Jato. No Senado, 6 dos 11 parlamentares tucanos apareceram na lista, incluindo o também ex-candidato à presidência José Serra. Dilma se nega a comentar o destino dos rivais políticos. "Eu sou contra o 'vazamento seletivo', mas também sou contra o 'vazamento'", diz. Em uma turnê de palestras pelo mundo, que incluiu paradas em países como Argentina, Uruguai, Suíça e pelo menos cinco universidades americanas, Dilma se apresenta como uma política de esquerda, dedicada a evitar que o "neoliberalismo voltasse a reger a economia". A reportagem pergunta se Dilma sente que seu discurso está mais à esquerda desde que saiu do poder — a própria CUT (Central Única dos Trabalhadores), ligada historicamente ao PT, criticava medidas de austeridade em seu governo. "Eu não", responde Dilma. — Essa sensação se deve ao fato de hoje eu não ter as restrições que um presidente tem que ter protocolarmente. Ex-aliado político, Temer é "fraco", segundo Dilma Rousseff 6/4/2017 REUTERS/Ueslei Marcelino Ela conta que prefere manter algumas das limitações, como dar opiniões sobre chefes de Estado. Afirma que "um presidente nem sempre defende só as suas crenças", e diz que foi obrigada, "em alguns momentos, a defender posições que impliquem na melhor situação possível para a população". A BBC Brasil pergunta se esse é o caso, por exemplo, do aborto. Em 2014, seu governo recuou após pressões da bancada evangélica e revogou uma portaria que regulava procedimentos a serem tomados pelo SUS (Serviço Único de Saúde) em casos de aborto legal. "Acho que um presidente não pode interferir no Brasil em certas questões. Não acho que a questão do aborto seja uma questão de política presidencial. Acho que se o movimento de mulheres conquistar e galvanizar um conjunto de pessoas, o presidente pode manifestar-se a respeito. Porque também isso é uma transferência de reivindicações do movimento para a presidência da República. Não é papel da presidência da República discutir propostas do movimento de mulheres", diz. Ela prossegue, sete anos após se declarar contrária ao aborto nas eleições de 2010. — Pessoalmente, eu sou a favor do direito das mulheres decidirem sobre seus corpos. Agora, como presidente da República, isso não tem cabimento. A entrevista é realizada na sala do apartamento de um professor da universidade de Brown, onde Dilma discursara dois dias antes. Durante a conversa, seus assessores articulavam um encontro entre a ex-presidente e Bernie Sanders, socialista americano que perdeu as prévias da corrida eleitoral pelo partido Democrata para Hillary Clinton, mais tarde derrotada por Donald Trump. À reportagem, a ex-presidente afirma que não sabia que Eduardo Cunha — seu aliado nas eleições de 2010 e 2014, antes se tornar pivô do impeachment — era corrupto, até o Ministério Público acusá-lo de desvios e de possuir contas no exterior. "Eduardo Cunha se transformou na pessoa que a senhora descreve apenas quando ele rompeu com a senhora?", pergunta a BBC Brasil. Hoje, Dilma costuma se referir a Cunha como "gângster", "golpista" e "conspirador". "Ele já era assim. O fato de tirar foto com ele não significa que eu endosso ele, não. Não sei qual era o nível de apoio que ele me dava. A relação dele comigo sempre foi, eu te diria, distante, não foi próxima. Isso é público e notório", diz. A reportagem insiste: "Em que momento Cunha se tornou um problema? Só quando ele rompeu com a senhora? Ele já não era corrupto?". "Isso eu não sei, pô", responde Dilma. — Eu sei que o Eduardo Cunha é corrupto porque o MP publicou a ficha dele. Ninguém achava que ele tinha tantas contas na Suíça. Ninguém achava isso. Até porque o MP teve dificuldade de abrir as contas, né? Ainda sobre ex-aliados políticos, a BBC Brasil também pergunta por que ter um "fraco" — como Dilma tem se referido publicamente ao antigo companheiro de chapa Michel Temer — como vice. "Porque você vai descobrindo que a pessoa é fraca ao longo da vida", responde, afirmando que a escolha foi feita pelo PMDB, membro da então coligação petista, e não por ela. |
Delator entrega planilhas sobre campanhas de Alckmin Posted: 14 Apr 2017 10:21 AM PDT Marivaldo Oliveira/30.03.2017/Codigo19/Folhapress O chefão do setor de infraestrutura da Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Junior, entregou à Operação Lava Jato cópias dos registros de pagamentos de caixa 2 para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), das planilhas do Setor de Operações Estruturadas — o chamado por investigadores "departamento de propinas". São as provas de corroboração do que disseram três delatores da Odebrecht sobre pagamentos acertados e efetuados para as campanhas de 2010, de R$ 2 milhões, para o codinome "Belém", e de 2014, de R$ 8,3 milhões, para o codinome "M&M". Alckmin foi citado por três delatores da Odebrecht. O caso foi enviado para o STJ (Superior Tribunal de Justiça), que tem competência para analisar a abertura de uma investigação criminal contra ele, pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, relator da Lava Jato. "M&M", segundo o delator, pode ser referência ao nome de Marcos Monteiro, que foi o interlocutor de Alckmin no suposto acerto da doação de R$ 10 milhões para a campanha de 2014. Monteiro era, na época, titular da Imprensa Oficial do Estado e é, atualmente, secretário de Planejamento do Estado. Efetivamente, o valor pago foi de R$ 8,3 milhões, segundo os delatores. Nas planilhas, além do codinome M&M há registro das datas de entrega, as senhas usadas para o recebimento dos valores e referências às obras Linhas 6 do Metrô e Emissário Praia Grande relacionados aos pagamentos. "O diretor superintendente da Odebrecht Infraestrutura, responsável pela região Sul e o Estado de São Paulo, Luiz Antonio Bueno Junior, me relatou que foi procurado por Marcos Monteiro", contou o delator. "Para solicitação de contribuição de campanha para o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, no valor de R$ 10 milhões." Interesses BJ afirma que o propósito da aprovação da doação "era a proeminência de Geraldo Alckmin no cenário nacional, a sua liderança e de seu partido no Estado de São Paulo". "Também era garantir interlocução qualificada na discussão dos projetos vislumbrados como participação na nova rodada de concessão rodoviária no estado, novas participações em projetos com parceria da Sabesp e potenciais novas concessões de trens regionais." O delator afirmou que "em todos esses segmentos no ano de 2015" a Odebrecht teve "oportunidade de discutir antecipadamente com o governo estes projetos, modelo de contratação, fontes de financiamento etc." "Considerando o perfil progressista de Geraldo Alckmin, candidato ao governo do Estado de São Paulo em 2010, incentivador das parcerias público privadas, com objetivo de promover investimentos na área de infraestruturas, o que era de interesse da companhia, foi realizada contribuição para as campanhas por meio de caixa 2, em espécie", afirmou BJ em seu anexo sobre o caso. "Nosso objetivo com doações ao candidato Geraldo Alckmin era manter a companhia em bem posicionada em termos de relacionamento, comparativamente com as duas outras estrelas do PSDB - Aécio Neves e José Serra." Belém Além de BJ, outros dois delatores, os executivos Carlos Armando Guedes Pachoal e Arnaldo Cumplido de Souza e Silva, citaram os pagamentos de caixa 2 para as campanhas de Alckmin. Eles relataram o repasse de R$ 2 milhões pelo Setor de Operações Estruturadas da companhia, para Adhemar César Ribeiro, cunhado de Alckmin. "Receberia pessoalmente parte desses valores e que, ao lado desses pagamentos, houve também doação oficial de R$ 400 mil." O delator Carlos Armando Guedes Paschoal afirmou que foi a um reunião com Aluizio Araújo, conselheiro do grupo morto em 2014, com Alckmin em escritório na Avenida 9 de Julho. "Encerrado o encontro, Geraldo Alckmin determinou pessoalmente à sua secretária que me passasse os dados de contato de Adhemar Ribeiro, seu cunhado, o qual seria incumbido dos recebimentos", disse Paschoal. "Os pagamentos desse valor foram realizados com recursos de caixa 2 e foram acertados com Adhemar Ribeiro, que definia os locais de entregas dos recebimentos." Outro lado O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), negou qualquer irregularidade, por meio de nota. "Jamais pedi recursos irregulares em minha vida política, nem autorizei que o fizessem em meu nome. Jamais recebi um centavo ilícito. Da mesma forma, sempre exigi que minhas campanhas fossem feitas dentro da lei." O secretário de Planejamento do governo de São Paulo, Marcos Monteiro, afirmou que as contas da campanha de 2014 do governador Geraldo Alckmin foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral. "A gestão financeira da campanha de 2014 foi feita dentro da lei e todas as contas foram aprovadas pelo TRE." |
Odebrecht pagava "tribo" e "barbudos" da CUT na floresta Posted: 14 Apr 2017 10:11 AM PDT O executivo Henrique Valadares, um dos delatores da Odebrecht, relatou à Operação Lava Jato que a empreiteira fez pagamentos, via caixa 2, até a índios. Sob o codinome "Tribo", lideranças indígenas receberam depósitos em conta-corrente, disse Valadares. Os pagamentos estavam vinculados ao Projeto Madeira. O delator apontou "parcelas de R$ 5 mil para Antenor Karitario (na conta corrente da esposa), R$ 2 mil para Orlando Karitario, R$ 2 mil para a Associação dos Povos Karitianos, e R$ 1,5 para pagamento de pequenas solicitações dos mesmos." "Tribo. Esse cara se tornou até meu amigo, tenho até um cocar lá em casa. O chefe da tribo lá é o Antenor Karitário", relatou. "Pagava para ele R$ 5 mil por mês, depositado na conta da esposa. E mais R$ 2 mil para o Orlando que deve ser outro cacique lá da tribo." Henrique Valadares disse que "isso aqui era para distribuir para os índios". "Caiu no genérico, tribo." A planilha de pagamentos entregue por Valadares à Lava Jato aponta uma série de pagamentos ao codinome "Tribo". O trecho intitulado "Movimento de Saída", indica 893,5 em 3 de janeiro de 2011. Sete dias depois, mais 4.730,37 a "Tribo". Em 2 de fevereiro de 2011, "Tribo" foi destinatário de três repasses: 1.202,57, 1.202,57 e 3.006,43. Nesta planilha, os últimos pagamentos a "Tribo" foram em 7 de março de 2012 (1.139,21, 1.708,82 e 2.848,03) e, em 8 de março de 2012 (847,84). Ao Ministério Público Federal, Valadares relatou ainda pagamentos a "Barbudos". O delator ligou o codinome a um representante da CUT junto ao Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada em Porto Velho. "Barbudos, esse é fácil adivinhar, eu creio. Isso é para os representantes da CUT locais. A CUT foi o primeiro sindicato a chegar lá e se estabelecer. Estavam todos de olho, não tinha nada na cidade, de repente surge lá um contingente de 25 mil homens numa obra e mais tanto na outra. Os sindicatos chegam assim, que nem abelha para conquistar espaço", afirmou. "O pessoal da CUT costumava cobrar pedágios mensais para eles não apoiarem greves, atos de violência, esse tipo de coisa." O executivo relatou ainda repasses a "Companheiro". De acordo com o delator, os pagamentos eram regulares a diretores de sindicato, buscando que os mesmos não insuflassem os trabalhadores a praticar atos de vandalismo e depredação na obra nas épocas de negociação coletiva, especialmente em virtude do histórico de Jirau. Os lançamentos de R$ 5 mil correspondem aos pagamentos efetuados a Raimundo Enelcio Pereira, Altair Donizete de Oliveira e Ademilton Santos Borges. Já os valores de R$ 2,5 mil se referem aos depósitos em favor de Valdeci da Costa Braga e Francisco das Chagas Costa. A propina total no projeto da Usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia, paga pela Odebrecht e a Andrade Gutierrez, chegou a R$ 80 milhões. Apesar de ser um empreendimento encampado pelo governo do PT, a maior parte dos pagamentos foi feita a políticos do PMDB, PSDB e PP, segundo os delatores da Odebrecht. As acusações citam o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - condenado e preso em Curitiba -, os senadores Aécio Neves (PSDB-MG), Edison Lobão (PMDB-MA), Ivo Cassol (PP-RO), Romero Jucá (PMDB-RR) e Valdir Raupp (PMDB-RO), além de Sandro Mabel, assessor especial do presidente Michel Temer. A usina foi o primeiro grande projeto da Odebrecht como investidora no setor de energia, em meados dos anos 2000. As pretensões da empresa na época eram de se tornar a maior geradora do País. O modelo de negócio seria o de competir agressivamente nos leilões do governo federal e fazer a obra depois, como fornecedora, onde teria sua maior margem de lucro. Em depoimento, Henrique Valadares citou pagamentos ao codinome "advogado". Segundo o delator, houve um "compromisso" assumido por um executivo da empresa com o ex-governador Ivo Cassol "do pagamento do advogado" que o defendia. "É que nem o Renan, tem uma cacetada de processo nas costas. Um deles, recentemente, causou o afastamento dele", disse. "Pagamos também, o cara não queria receber em nome da Odebrecht. Pagamento de serviço prestado, na realidade ele estava prestando serviço ao governador. Nem nós queríamos que isso acontecesse. Pagamos diretamente dessa forma." Valadares declarou que o pagamento "não foi tão expressivo." O delator afirmou ainda que "nem sempre caixa 2 significa necessariamente pagamento de propina". "O caixa 2 pode ser usado para outras finalidades. Aqui tem uma delas. O nome de festa, evento, não sei o quê e tal. Não são propina, não é um dinheiro dado a agente público. Quando eles tinham um grande evento na obra, um desvio de um rio, fazia uma festa. Chamava a equipe toda, servia uísque, não sei o quê", relatou. "Eu aprendi desde cedo que quando acontecem coisas desse tipo, que envolvem bebida alcoólica e tal, não se deve lançar nota, esse registro de bebida alcoólica na contabilidade da empresa. Isso vai passar na mão de um monte de gente que não sabe o que se trata e vai dizer: 'Tem um tal de Henrique Valadares aqui, José Bonifácio, Rogério Batista, que está cobrando uma nota milionária de bebida alcoólica. Deve ter convidado os amigos dele, Salvador inteirinha, no Carnaval, para fazer uma farra'." |
Temer quer acelerar agenda de reformas, mas base admite risco após lista da Odebrecht Posted: 14 Apr 2017 10:07 AM PDT Temer poderá se reunir com líderes da base para discutir detalhes do texto da reforma da Previdência Ueslei Marcelino/Reuters O Palácio do Planalto pretende acelerar as articulações nos próximos dias com a base aliada para tentar aprovar as reformas da Previdência e trabalhista no Congresso, que estariam ameaçadas, na avaliação de parlamentares, após a abertura de inquérito contra dezenas de deputados e senadores implicados nas delações de executivos da Odebrecht e a divulgação dos vídeos em que se expôs o esquema de corrupção. O presidente Michel Temer poderá se reunir com líderes da base para discutir detalhes do texto da reforma da Previdência no domingo. Esse encontro ainda não está certo, mas tem sido discutido como uma demonstração de que o governo e ele pessoalmente não estão parados diante das delações da Odebrecht. O texto da reforma deve ser apresentado formalmente na comissão especial da Câmara na próxima terça-feira. A ordem é manter o calendário das reformas e, segundo interlocutores do presidente, somente a melhora do cenário econômico com a aprovação das medidas será capaz de contrabalançar o "estrago" feito pela lista. Os próximos passos após lista de Fachin podem causar terremoto no mundo político As delações atingiram oito ministros (dois deles do núcleo palaciano) e 63 parlamentares, incluindo aí os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). O receio do Planalto é que, se não mostrar reação, poderá ficar refém da Lava Jato e ainda perder credibilidade e a confiança do mercado, que tem respaldado a agenda de reformas. Por ora, os ministros estão mantidos, uma vez que a "linha de corte" estabelecida por Temer só levaria ao afastamento aqueles que forem alvos de denúncia criminal. Na linha de rebater acusações, Temer também vai responder a tudo que o envolva, como fez nesta quinta, quando apareceu em um vídeo negando ter tratado de valores e negócios escusos em reunião com executivos da empreiteira. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), pretende defender publicamente o cancelamento do recesso parlamentar do meio do ano a fim de garantir a aprovação, o quanto antes das reformas, principalmente a da Previdência. Por ora, essa é uma iniciativa individual dele. Odebrecht cita R$ 451 milhões para políticos investigados Mas serve como uma vacina para aliados que já consideravam, antes da lista de inquéritos de Fachin, difícil aprovar as duas reformas até meados de julho. Dois aliados do Planalto não consideram que haja, por ora, qualquer risco para que Temer complete o mandato. Primeiro, não há um clamor popular para a queda dele, apesar das acusações pessoais. Avaliam ainda que, com partidos da base e oposição implicados, haverá uma tentativa da atual classe política se autopreservar para as eleições de 2018. Dois aliados do Planalto não consideram que haja, por ora, qualquer risco para que Temer complete o mandato BBC Brasil Congresso Por ora, há uma avaliação reservada de aliados do governo no Congresso de que haverá, sim, um comprometimento do calendário das reformas. Um auxiliar de um presidente de partido implicado nas delações da Odebrecht afirmou que agora cada um vai cuidar de si e que a votação das reformas ficará em segundo plano. "Temer quer aprovar as reformas, mas ninguém quer", disse esse auxiliar, sob a condição de anonimato. Ele relatou que os parlamentares estão preocupados em sobreviver às investigações da Lava Jato no STF — mesmo que a tradição na Corte seja demorar até se chegar a um julgamento — e ainda conseguir se reeleger, para garantir a manutenção do foro privilegiado. O deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), o mais antigo em atividade na Câmara, disse que agora vai se "cair na dúvida" sobre a capacidade do governo de aprovar a reforma da Previdência. "As propostas em si são frágeis", afirmou Miro, que é contrário à reforma apresentada e defensor de novas eleições gerais. Já o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), mesmo sendo um dos maiores críticos da reforma da Previdência na base, procurou minimizar eventuais prejuízos por conta das delações. "No processo de impeachment de Dilma, em meio à crise econômica, foi o período em que o Parlamento mais deliberou", disse à Reuters Renan, à época presidente do Senado. Renan disse que suas críticas à proposta de Temer são relativas ao mérito da reforma da Previdência, que considera muito dura. E no momento em que a Lava Jato avança sobre a classe política, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) pretende colocar em votação na próxima semana na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado seu parecer que altera a legislação de abuso de autoridade. Ele negou que a iniciativa tenha por objetivo retaliar a operação, à qual defende, e que o projeto visa a combater eventuais excessos de servidores públicos. A matéria tem sido criticada pela força-tarefa da Lava Jato como uma tentativa de inibir a operação "Não há que se confundir. Vejo o corporativismo de algumas categorias do funcionalismo tão nocivo quanto à corrupção no Brasil", criticou. |
Odebrecht tinha esquema com dragagem no Rio Madeira Posted: 14 Apr 2017 09:46 AM PDT O dinheiro que abastecia parte do caixa do departamento de propina da Odebrecht também saiu do fundo das águas turvas do Rio Madeira, na Amazônia. Em relatos dados aos investigadores da Operação Lava Jato, o delator Henrique Serrano de Prado Valadares contou como as fraudes dos serviços de retirada de sedimentos do fundo do rio amazônico, uma prática conhecida como dragagem, serviram de atalho para arrecadar milhões de euros e injetar recursos no departamento da propina, que passava dificuldades por conta de tanto saque. Ex-executivo da área de energia da Odebrecht, Valadares contou que Marcelo Odebrecht havia dado a ordem para cada gestor das grandes obras lideradas pela companhia dessem um jeito de arrecadar recursos para as contas de caixa 2, tudo da forma mais discreta possível. Depois de analisar os caminhos possíveis para retirar dinheiro da hidrelétrica de Santo Antônio, que a Odebrecht e a Andrade Gutierrez construíam na região de Porto Velho (RO), ficou decidido que a melhor saída seria burlar os serviços de dragagem. O trabalho era prestado por empresas europeias, que recebiam pagamentos em euro. Como os custos pela retirada dos sedimentos do fundo do rio oscilam muito, por conta do tipo de material que será retirado, bastava alterar o tipo de serviço prestado. "É muito fácil dragar uma areia. Mas se você estiver dragando argila, natural e dura, é muito mais difícil, exige mais equipamentos e é muito mais caro", comentou o ex-executivo. "Existe uma gama de materiais para ser dragado e de preços." Segundo o delator, a transação foi viabilizada por Marcos Grillo, que era responsável pela geração de caixa da Odebrecht. "Estou mostrando o quanto é fácil fazer isso. Se você combinar com a empresa holandesa ou belga que ela vai escavar areia, e vai cobrar pelo preço mais alto, como se estivesse escavando uma argila extremamente dura, difícil de dragar, aquilo vai dar um aumento na medição da fatura dele, enorme", disse Valadares. "E você pode combinar com ele, que ele vai lhe repassar essa diferença lá fora, em euros." Uma complexa estrutura financeira foi montada para viabilizar o esquema, disse o ex-executivo. "O Grillo é muito competente nisso. Quem for procurar aquilo ali, se perde no meio do caminho. São tantos quadrinhos, tantas setinhas para lá e para cá, que você fica maluco. Ele fez um negócio muito competente. Através da dragagem ele resolveu o problema de geração da caixa 2." |
Helder Barbalho defende-se de delator sobre doações Posted: 14 Apr 2017 09:41 AM PDT ![]() Segundo a assessoria do ministro, doação de R$ 1,5 milhão da Odebrecht corresponde à doação oficial registrada por Helder Alan Marques/Folhapress A Odebrecht cogitou não dar nada ao então candidato do PMDB ao governo do Pará, Helder Barbalho, depois de ele ter solicitado R$ 30 milhões para a sua campanha em 2014, disse em delação premiada o executivo Mário Amaro da Silveira. No final das contas, a campanha do peemedebista teria recebido R$ 1,5 milhão via caixa 2. Em nota, o ministro da Integração Nacional negou que tenha cometido ilegalidades. Barbalho reafirma que todos os recursos que recebeu como doações para sua campanha em 2014 foram devidamente registradas junto ao TRE-PA, que aprovou todas as suas contas. Segundo a nota, ao longo da campanha de 2014, o então candidato teve encontros com representantes de empresas com o objetivo de obter doações legais. Segundo a assessoria do ministro, a doação de R$ 1,5 milhão da Odebrecht corresponde à doação oficial registrada por Helder (R$ 1,2 milhão) e por Beto Salame (R$ 300 mil). Acrescenta ainda que Helder teve doação oficial de mais R$ 2 milhão da Braskem. "Estranhamente na delação não há referência à doação oficial, só a uma suposta doação via caixa 2", diz a nota. Silveira ocupou o cargo de diretor-superintendente da Odebrecht Ambiental no Estado do Pará, tendo concentrado suas atividades em uma empresa adquirida pela empreiteira, a Saneatins, que na época tinha a concessão do serviço de saneamento de cinco municípios paraenses. Apelidado de "Cavanhaque", Barbalho é um dos oito ministros do presidente Michel Temer que são alvos de inquéritos instaurados pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), com base nas delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht. Em nota, a assessoria do ministro afirma que a conversa em São Paulo com o executivo da Odebrecht existiu sim, mas durou 10 minutos e foi apenas para apresentação. "Helder nunca pediu R$ 30 milhões ou quantia alguma." Afirmou que não tinha e não tem qualquer ingerência sobre a área de saneamento no município de Marabá. O ministro destacou ainda sua "estranheza" com o codinome "Cavanhaque". "Em toda sua trajetória política, Helder Barbalho nunca usou cavanhaque", diz a nota. |
Delações reforçam investigações sobre quadrilha entre PT, PMDB e PP Posted: 14 Apr 2017 09:00 AM PDT Procuradoria investiga três partidos da base do governo Dilma Wikimedia Commons Relatos de ao menos 23 dos 77 delatores da Odebrecht servirão para reforçar os inquéritos que apuram a formação de uma organização criminosa por políticos ligados ao PT, PMDB e PP para estruturar o esquema de corrupção revelado pela Lava Jato. Em dez petições encaminhadas ao STF (Supremo Tribunal Federal), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pede a inclusão de trechos dos depoimentos dos delatores nas investigações de quadrilha. Os pedidos foram atendidos pelo ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo. Em março de 2015, na primeira "lista de Janot", a PGR pediu um inquérito para investigar a organização dos políticos. Até então o esquema era restrito à Petrobras. O chamado "quadrilhão" foi fatiado em outubro do ano passado para facilitar as investigações, que agora são divididas por partidos. Nessa linha de investigação, a PGR suspeita de que houve organização criminosa e comando político com objetivo de obter recursos de propina e caixa dois. Janot pediu a inclusão de diferentes trechos dos depoimentos dos executivos Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht, Carlos Fadigas, João Nogueira, Antônio Almeida, Cláudio Melo Filho, Fernando Reis, Alexandrino Alencar, Pedro Novis, Márcio Faria,Rogério Araújo, César Ramos Rocha, Antônio Pessoa Couto, Benedicto Júnior, Newton Azevedo Lima, Paul Altit, Henrique Valladares, Paulo Cesena, Rodrigo Melo, João Carlos Nogueira, José de Carvalho Filho, Hilberto Mascarenhas e Luiz Eduardo Soares nas investigações de formação de quadrilha. "Em que pese não haver menção a autoridades com prerrogativa de foro no Supremo Tribunal Federal, as narrativas interessam à investigação em curso no Inquérito nº 4.325/STF, que apura o crime de organização criminosa por parte dos membros do Partido dos Trabalhadores (PT)", escreve Janot em uma das peças, por exemplo, ao justificar que o material seja juntado nas investigações em curso no Supremo. As delações da Odebrecht serão incluídas na apuração sobre organização criminosa dos três partidos - PT, PMDB e PP. A apuração da formação de quadrilha pelos três partidos é considerada uma das linhas de investigação mais importantes abertas pela Lava Jato, na primeira lista de Janot. |
Helder Barbalho chegou a pedir R$ 30 mi, diz delator Posted: 14 Apr 2017 08:05 AM PDT ![]() Helder Barbalho é acusado de pedir R$ 30 milhões para Odebrecht Pedro França/Agência Senado A Odebrecht cogitou não dar nada ao então candidato do PMDB ao governo do Pará, Helder Barbalho, depois de ele ter solicitado R$ 30 milhões para a sua campanha em 2014, disse em delação premiada o executivo Mário Amaro da Silveira. No final das contas, a campanha do peemedebista teria recebido R$ 1,5 milhão via caixa 2. Silveira ocupou o cargo de diretor-superintendente da Odebrecht Ambiental no Estado do Pará, tendo concentrado suas atividades em uma empresa adquirida pela empreiteira, a Saneatins, que na época tinha a concessão do serviço de saneamento de cinco municípios paraenses. Apelidado de "Cavanhaque", Barbalho é um dos oito ministros do presidente Michel Temer que são alvos de inquéritos instaurados pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), com base nas delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht. Barbalho e o senador Paulo Rocha (PT-PA) serão investigados em um mesmo inquérito no STF sob a suspeita de participarem de uma esquema criminoso de corrupção e lavagem de dinheiro. Fora de cogitação O delator contou ter se encontrado em setembro de 2014 com Barbalho e Paulo Rocha no Tryp São Paulo Jesuíno Arruída, no Itaim Bibi, para tratar de contribuições para a campanha. "O Helder Barbalho comentou que conhecia a atuação da empresa e que ele tinha um grave problema de saneamento no Pará, que seria uma das prioridades dele, e cogitava adotar uma solução privada (em seu eventual governo)", comentou Mário Amaro da Silveira. Segundo o delator, o peemedebista queria a ajuda da Odebrecht para resolver o problema de saneamento no Pará, caso fosse eleito. "E ao final dessa conversa, eles explicitaram as dificuldades econômicas da campanha e fizeram um pedido de R$ 30 milhões. Eu falei, 'Vou levar isso até a nossa presidência lá por dever de ofício, mas acho que é uma coisa totalmente fora de cogitação", contou Silveira. Segundo o delator da Odebrecht, o valor pedido foi sendo gradualmente reduzido ao longo da conversa para "pelo menos 20, pelo menos 10, pelo menos R$ 5 milhões". "A gente até cogitou de não dar nada, um cara que pede R$ 30 milhões, né, mas depois, o Fernando (o ex-presidente da Odebrecht Ambiental Fernando Reis) falou assim, 'Vamos oferecer o que a gente tem conta de oferecer", afirmou Amaro. Segundo Reis, a contribuição para a campanha foi "pedida como caixa 2 e feita como caixa 2". No final das contas, a Odebrecht pagou R$ 1,5 milhão em três parcelas. Relação A expectativa era a de que o pagamento de caixa 2 para Helder Barbalho resultasse numa melhor relação entre as concessões privadas da Odebrecht no Estado e a Companhia Estadual de Saneamento do Pará (Cosanpa), caso o peemedebista vencesse a disputa pelo governo estadual. "A Cosanpa faz o que pode para perturbar. Existe um corporativismo nas companhias estaduais contra os operadores privados. As companhias estaduais não gostam de perceber que estão perdendo terreno para operadores privados", disse Reis. Helder Barbalho acabou derrotado no segundo turno das eleições pelo tucano Simão Jatene. Outro lado Em nota, o ministro negou que tenha cometido ilegalidades. Barbalho reafirma que todos os recursos que recebeu como doações para sua campanha em 2014 foram devidamente registradas junto ao TRE-PA, que aprovou todas as suas contas. Afirmou que não tinha e não tem qualquer ingerência sobre a área de saneamento no município de Marabá. O ministro destacou ainda sua "estranheza" com o codinome "cavanhaque". "Em toda sua trajetória política, Helder Barbalho nunca usou cavanhaque", diz a nota. |
Deputado Ônyx tinha apelido de "inimigo" pela Odebrecht Posted: 14 Apr 2017 07:53 AM PDT ![]() Lorenzoni é acusado de receber R$ 175 mil via caixa 2 Marcelo Camargo/Agência Brasil Relator do projeto das Dez Medidas de Combate à Corrupção na Câmara, o deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS) recebeu o apelido de "inimigo" na planilha da Odebrecht. Ele é acusado de receber R$ 175 mil via caixa 2 para sua campanha de 2006 e será investigado em um dos inquéritos abertos pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal). Em seu depoimento, o ex-executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar disse que tinha como uma das funções na empreiteira "observar, intuir e perceber potenciais candidatos que poderiam crescer e dar destaque" no mundo político. Onyx, segundo o delator, foi identificado como um desses quadros, e foi procurado porque a Odebrecht queria tê-lo "como um parceiro futuro nas suas atividades de deputado federal". "Ele era uma pessoa importante, era uma pessoa, um jovem impulsivo, lutador, que precisávamos mantê-lo próximo, procurei o candidato a deputado, na época ele era candidato pelo "PFL" e procurei, dizendo do interesse nosso de nos aproximarmos, de que seria importante fazermos doações pra campanha dele", relatou Alexandrino. Abrir inquérito significa que suspeito cometeu crime? Saiba o que representa decisão de Edson Fachin Segundo o ex-executivo, a reunião com Lorenzoni foi ocorreu na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e, na ocasião, o deputado gaúcho não demonstrou nenhuma "rejeição" em receber o dinheiro via caixa 2, prática comum adotada pela empreiteira naquela época para não chamar atenção da imprensa. A operação foi registrada no sistema de informática "Drousys", que controlava as transações do "banco da propina" da Odebrecht. De acordo com Alexandrino, a doação não foi informada à Justiça Eleitoral. Durante a discussão sobre o pacote anticorrupção na Câmara, Lorenzoni ganhou destaque por defender o texto elaborado pelo Ministério Público Federal e ficar ao lado da força-tarefa da Lava Jato. Em seu relatório, ele manteve a proposta de criminalizar a prática de caixa 2, mas reduziu as penas. Pelas redes sociais, o deputado negou o recebimento de caixa 2. "Eu estou surpreso, indignado, revoltado, com essa citação nas delações da Odebrecht. Quero deixar claro que eu tenho 24 anos de vida pública limpa, e ela vai continuar limpa, sempre me separei dessa lambança que lamentavelmente tem aqui no Brasil. Não devo e não temo", afirmou. Ele também disse que nunca esteve na sede da Odebrecht. — Se alguém descobrir uma foto minha ou qualquer registro de entrada minha na empresa, eu renuncio ao mandato. |
Inquéritos apuram propinas de R$ 190 mi em obras Posted: 14 Apr 2017 06:36 AM PDT Reserva do Paiva, em Pernambuco: denúncias de propinas Reprodução/Facebook A máxima é "dando que se recebe" ganhou um nova dimensão com a divulgação de parte do conteúdo das delações do grupo Odebrecht. Entre os 76 inquéritos abertos no STF (Supremo Tribunal Federal) pelo relator da Operação Lava Jato, ministro Edson Fachin, 31 tratam de cobrança de propinas. Ou seja: praticamente 40%. Pelos depoimentos dos executivos, por baixo, as pedidos de propinas somariam, pelo menos R$ 190 milhões. Se as investigações concluírem que realmente foram feitos, o valor pode ser ainda maior. Em alguns casos, parte das cobranças que teria sido feita por políticos não envolvida valores fechados, mas participações porcentuais, que teriam variado de 0,55% a 5%, do valor total dos contratos conseguidos pela empreiteiras. As propinas não eram pedidas com esse nome, contaram os executivos. Eram solicitadas a título de "contrapartidas", "ajustes de mercado" e "apoio". Nas justificativas para os inquéritos, foram apresentados relatos de que as propinas não eram cobradas apenas para garantir que a empresa venceria uma licitação de obra ou concessões, como se costuma imaginar. Há casos em que os pedidos teriam sido feitos para assegurar que uma nova lei não iria inviabilizar o andamento do projeto já em curso ou para desvencilhar a empresa de trâmites burocráticos comuns no sistema estatal brasileiro. A lista de políticos e de valores é tão diversificada que uma conclusão é inevitável: a cobrança de propinas tornou-se indiscriminada entre políticos de todas as vertentes e calibres pelo Brasil afora. São citados nos inquéritos desde prefeitos deputados estaduais e federais a senadores, ministros e ex-ministros. Sob investigação nos inquéritos está a doação de "Vado" da Farmácia, o ex-prefeito em Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, para garantir a construção do Reserva do Paiva, projeto imobiliário de alto padrão. Também são alvos de apurações pedidos milionários que teriam sido feitos pelo senador José Serra (PSDB-SP) para a construção do Rodoanel, São Paulo. Na capital paulista também está um complexo Parque da Cidade, para o qual políticos do PT, entre eles o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, teriam solicitado propina para garantir a participação da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Há ainda o inquérito que trata de averiguar repasses que a construtora teria feito para ter vantagem nas concessões de aeroportos. Os valores teriam sido negociados com Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, e Moreira Francos, ministro chefe da Secretaria Geral da República. Pelo acordo, a Odebrecht teria garantido condições melhores para participara dos leitores de aeroportos, quanto teria se sagrado vencedora na disputa pelo aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro. Os valores e as condições de "retorno dos investimentos" para os recursos liberados aos políticos foram igualmente diversificados. Há casos em que os aportes teriam sido feitos para projetos que depois nem se concretizaram, mas que a empresa julgou valer a penas arriscar o "investimento" no político. Em outros exemplos apresentados, o grupo fez liberações milionárias. A campeã em pedidos de propinas, por exemplo, segundo os inquéritos, é a obra da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia. Trata-se de um dos maiores empreendimentos já feitos no Pais no setor de energia, que passa da R$ 16 bilhões. Foram citados cinco pedidos, que somam R$ 77 milhões — 98% do total da região Norte. Os executivos da Odebrecht também contaram ter pago valores menores, na casa de R$ 100 mil, como doação de campanha para deputados estaduais e prefeitos, para garantir que poderiam ingressar no setor de saneamento, em Estados como Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Paraíba. |
You are subscribed to email updates from R7 - Brasil. To stop receiving these emails, you may unsubscribe now. | Email delivery powered by Google |
Google Inc., 1600 Amphitheatre Parkway, Mountain View, CA 94043, United States |