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sábado, 28 de maio de 2016

#Mistérios

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O crânio – Parte 13

Posted: 27 May 2016 07:09 PM PDT

Tempo de leitura: 16 minutos

Bruno coçou a cabeça, enquanto pensava na provocação ao crânio.
eles estavam sentados no banquinho da portaria, e Gui estava ao lado dele. Os dois olhavam para o vazio e já não falavam nada. Ao fundo, na entrada do prédio, o rabecão dos bombeiros removia o corpo para o IML. Uma pequena multidão de vizinhos e curiosos se aglomerava  na entrada do edifício tentando dar uma olhada no defunto.
Enquanto o povo se aglomerada, seu Limair tentava controlar a entrada e saída as pessoas do prédio. Era um dia atípico para o pobre porteiro.

Gui finalmente rompeu o silêncio com uma frase lacônica:

-Você tá fodido.

-Eu?

-Quem mais? Quem que tem uma porra duma caveira que mata as pessoas e traz o exu no meio da fogueira dentro de casa? Eu? Não… É o Bruno. O senhor!

-É. – Bruno concordou. Não sabia o que dizer, e o pior, não fazia a menor ideia do que fazer.

-A gente tem que se livrar daquela porra. Seu pai tá certo. Aquilo não é desse mundo…

-Eu… Eu…

-Porra, Bruno! Não vai me dizer que você vai esconder aquela caralha daquela cabeça! Você tem que se livrar daquilo meu. Você mesmo disse que ela pediu a alma da Bia!

-É! Sim, eu vou me livrar… Mas eu não sei…

-Não sabe o quê, vacilão?

-Não sei se vai adiantar. Eu pedi para ganhar na loteria. Mas ela pediu a alma da Bia. Se eu não entregar… Se eu não matar a Bia. Será que ela vai se vingar?

-Cara. Porra…  – Gui tinha os olhos arregalados e uma expressão de pavor. -Será?

-Ela matou seu Martinez. O que me garante que ela não vai me matar?

-Não sei. Mas… É uma perspectiva assustadora. Eu tô quase me cagando aqui. E se essa caveira do capiroto resolve que a culpa é minha e me mata, Bruno?

-Acho que só tem uma forma. A gente tem que destruir ela! Vamos destruir aquela porra e aí o poder dela certamente se enfraquece.

-É. faz sentido! Mas como que vamos destruir a maldita? -Perguntou Gui.

-Vamos quebrar ela com a marreta do meu pai! – Disse Bruno, sorrindo maliciosamente.

-Bora!

Minutos depois os dois estavam na área de serviço. Bruno estava posicionando cuidadosamente a caveira de pedra em um enrolado de toalhas no chão.  Enquanto assistia a preparação, Gui abria uma cerveja.

-Porra, a cerveja do meu pai, maluco!

-Ops, foi mal. Achei que era sua.

-Ah, foda-se. Dá um gole aí, maluco.

Gui estendeu a latinha para Bruno que deu duas goladas. Depois limpou a boca na manga da camisa. -E aí?

-A hora é agora. Vamos botar pra foder!

Bruno pegou a marreta no chão e se preparou. – Desculpa o mau jeito aí.

-É uma, é duas e…

Bruno desferiu a mais forte pancada que conseguia dar com a marreta bem na testa da caveira. As duas bolas de cristal lapidado pularam longe, mas a caveira de pedra ficou intacta.

Gui examinou a vítima: – Porra nem lascou. Nada. Nem um arranhão. Bate igual macho porra!

Bruno respirou fundo, levou a marreta até o topo da cabeça.

-THOR! – Gritou Gui.

Bruno caiu na cargalhada. – Porra viado. Não desconcentra!

-Foi mal. Vai, vai!

-Lá vai. Toma isso!

PLÁ!

Bruno deu uma violentíssima pancada na caveira que a fez pular de seu ninho de toalhas e rolar pelo chão até bater contra a máquina de lavar. O que deu um sonoro barulhão.

Após Gui correr e examinar novamente a caveira, Bruno não podia acreditar no que o amigo mostrou.

-Nada.

Novamente, a caveira de pedra não tinha nem um arranhão.

-Não é possível.

-Deve ser feitiço! – Exclamou Gui.  – Essa porrada dava para quebrar até ferro. Deixa eu tentar. Bota ela aí e passa a marreta.

-Ok. Vai!

-É três, é dois, é um e… Segura peããããão!

Gui deu uma violenta pancada na caveira mas novamente, nada aconteceu.

-Cruz credo!

-Certeza que ela não vai quebrar com porrada.

-Mas Bruno, ela tem que quebrar com porrada. Do contrário, como ela teria sido esculpida afinal? Só pode ter sido com porrada.

-Nem preciso dizer que essa coisa está protegida de alguma forma. -Disse Bruno, pegando a caveira do chão para analisar.

-Bruno, e se a gente jogasse ela do alto do prédio?

-Tá louco? Essa porra pesa uns dois quilos ou mais!

-Aposto que jogando do alto do prédio ela vai quebrar!

-Hummm. Tá. Vamos ver. Faz o seguinte, desce la no play. Vê se não vem ninguém e dá o sinal que eu taco.

-Taca mesmo?

-Taco, porra!

-Demorou!

Gui correu para o elevador. Minutos depois, Gui apareceu no pequeno espaço retangular que dava para o reservatório de gás do prédio. A janela da área de serviço dava para aquele pedaço sujo do play.

-E aí? Gritou Bruno.

Gui olhou para os lados e fez sinal de positivo com os dedos.

-Vou tacar!

-Tacaaaa!

-Sai de baixooooo!  -Gritou Bruno.

Gui saiu correndo para longe. Enquanto isso, Bruno jogou a caveira contra o solo.

A caveira girou no vazio e atingiu o chão de cimento do play com uma sonora explosão. Parecia um morteiro. Lá do playground Gui viu a caveira colidor contra o solo e quicar, subiu quase um metro e altura antes de bater no chão novamente.

Gui correu até ela. A caveira tinha conseguido abrir um pequeno buraco lascado no concreto. Mas a escultura estava completamente intacta.

-E aí? E aí? – Bruno gritava da janelinha lá no alto.

Gui fez sinal negativo com o dedo. – Nem arranhou! -Ele gritou.

-Sério?

-Serio!

-Pera aí que eu tô descendo!  – Ele respondeu.

Bruno apareceu minutos depois na porta do elevador.

-Dá aqui essa merda! – Disse, tomando a caveira da mão de Gui com grosseiria.

-Calma, porra. A culpa desse troço ser de adamantium né minha não parceiro!

-Tá ok. Beleza, desculpa. Cara nem lascou nem rachou. Inacreditável.

-Como vamos nos livrar dessa desgraçada?

-Já sei. Eu tenho uma ideia. Sabe aquela obra que estão fazendo no final da rua de trás?

-Sei. Ta tudo fechado pro trânsito tá. Acho que é obra do metrô, né?

-Eles tem uma maquina lá de perfurar asfalto. Uma britadeira gigante. Vamos levar essa porra lá e pedir para o cara quebrar ela com a máquina.

-Duvido que ele vai topar.

-Nada que cinquentinha não ajude! -Disse Bruno sacando uma nota do bolso.

Os dois foram até a rua de trás. Após alguns minutos olhando pelo biombo da obra, acharam finalmente o encarregado. Bruno explicou que estava tentando espatifar a caveira, mas o encarregado não parecia muito interessado. Nem mesmo a nota de cinquenta despertou a cobiça do sujeito, um homem meio bronco que parecia um gladiador ou astro de luta livre.  Bruno estava quase desistindo quando Gui salvou a parada com uma frase lapidar:

-Que pena, nunca saberemos se a lenda da família dele é verdadeira…

-Lenda? – perguntou o encarregado.

-É… dizem na familia que dentro dessa pedra tem um diamante enorme. Uma porra dum diamante que vale milhões… Sei lá, Bilhões!

-Diamante? Aí dentro?

Bruno olhou com cara estranha para Gui, que quando começava na mentira não conseguia mais parar.

-Então, o bisavô do meu amigo aqui era mineiro. Ele era lá de Barbacena. Mas lá tinha uma mina, uma mina de diamante, tá ligado? E ele escavou essa mina atras de um diamante gigante. Quando ele finalmente achou o veio dos diamantes, ele era tão grande, mas tão grande, que com medo dos ladrões o avô dele mandou esculpir na pedra essa caveira. O diamante gigante, dizem que está aí dentro. Mas sem quebrar, nunca vamos sab…

-Eu quebro!

-Quebra mesmo?

-Quebro! Mas se lascar a pedra uma fatia é minha!

-Como o senhor quiser! -Disse Bruno animado.

Eles entregaram a caveira para o homem de macacão azul marinho. Ele assoviou com os dedos sujos nos cantos da boca. Logo surgiram outros dois um negro gordinho e um magrelo alto de óculos morcegão.  Enquanto os dois se aproximavam, o encarregado virou-se para Bruno e Gui. Sussurrou:

-Nada de falar do diamante!

-Beleza. Fechado! – Eles disseram.

Quando os dois homens chegaram, o encarregado entregou a caveira e deu ordem para usar a maquina nela.

-Será que vai quebrar? – Perguntou Gui.

Os homens começaram a rir.

-Meu filho, olhá lá o brinquedo. Se aquela britadeira hidráulica não quebrar isso aí, eu tiro a minha roupa, viro baiana e vou vender acarajé na praça Mauá!

De fato, a maquina era um colosso. Um corpo de escavadeira amarela onde a ponta terminava numa grossa haste de aço.

-Cuza os dedos aí, Gui! – Disse Bruno entre os dentes, enquanto os dois olhavam de longe os dois peões posicionando a caveira num buraco. eles então sinalizaram para o encarregado. O encarregado apontou o local e o gordinho operou a maquina. Lentamente o braço mecânico de quase oito metros de altura se ajustou com incrível precisão. A ponta de metal avançou lentamente, até tocar a têmpora da caveira.

O encarregado fez o sinal com a mão e a coisa ligou. Imediatamente aquela ponta enorme de aço começou a desferir uma série de pancadas no crânio. Uma nuvem de poeira se levantou. A quantidade de pancadas foi aumentando gradativamente e o barulho era ensurdecedor.

O Encarregado tocou um apito que trazia no pescoço. E o gordinho desligou a maquina. O braço mecânico se recolheu e tidos correram para ver. Onde estava a caveira, agora só havia um buraco no solo.

-Ué. Cadê? Será que virou pó?

Bruno e Gui desobedeceram as ordens de ver do lado de fora do cercado da obra. Eles correram até o local, onde o Encarregado e o Magrelo olhavam o buraco.

Ali dentro, enterrada cerca de 40 centímetros no solo, estava a caveira de pedra. Intacta.

O gordinho olhou para o mestre de obras, intrigado.

-Nunca vi isso em vinte anos de profissão, Seu Messias…

-Porra, não é possível.  Renato, pega a picareta lá e puxa ela. Essa porra vai quebrar ou meu nome não é Messias!

-Sim senhor! -Disse o Magrelo.

Gui já estava prestes a fazer algum gracejo sobre roupas de baiana, mas foi dissuadido com um safanão discreto do Bruno.

-Nem pense nisso! Olha o tamanho desse cara, ô mongol!

-Ops, foi mal. Sabe como é. Perco o amigo mas…

-Vai perder a piada. Já perdeu.

-Tá bom, tá bom.

O magrelo voltou com a picareta. Minutos depois ele e mais quatro outros empregados conseguiram cavar o buraco ao redor da caveira e removê-la do solo. Todos estavam intrigados.

-Nem uma rachadura!

-Vou te dizer garoto, seu avô tinha mesmo as manhas de esculpir! -Falou o encarregado. -Sua sorte é que justamente hoje vamos dinamitar uma pedra ali em baixo. Quer tentar com dinamite?

-Di-dinamite? – Perguntou Bruno incrédulo.

-TNT. -Ele respondeu.

Bruno percebeu que agora era um “ponto de honra” do encarregado de destruir a caveira, ou ficaria com a imagem queimada diante dos subordinados.

-Bora!

 

Então, a hora prevista da detonação seria dali a duas horas. Bruno e Gui pegaram a caveira, se despediram dos novos amigos e foram almoçar numa galeria lá perto. Deram uma passada numa loja de discos, olharam umas roupas numa loja e foram ate um restaurante de comida à quilo.

Colocaram a caveira na mesa e enquanto almoçavam, discutiram sobre como fariam para se livrar dela.

-E se explodir e não sobrar nada? – perguntou Gui.

-Aí, foda-se. -Bruno respondeu comendo um pedaço de brócolis.

-Mas e como vamos saber se a caveira não foi pras cucuias ou o encarregado malocou ela com ele? Certamente ele não vai deixar a gente ver a explosão.

-Não deve ser permitido.

-Pois é. E aí?

-Não tem jeito, só podemos confiar nele. Marreta não deu, jogar do prédio não deu picareta nem arranhou… Agora, se dinamite não der, fudeu.

-Acho que a dinamite vai resolver.

-Bom, se não resolver, uma ideia é voc~e simplesmnete desejar que ela se autp-destrua.

-Sabe que nao é má ideia? -Disse Bruno olhando fixamente para a caveira de pedra… Até que num pulo, perguntou: – Ei, que horas tem?

-Faltam vinte minutos!

Bruno e Gui correram de volta ao canteiro de obras. O encarregado estava puto.

-Porra, achei que vocês tinham desistido!

Bruno se desculpou. Entregou a caveira ao encarregado. Ele levou a escultura de pedra com ele.

Minutos depois soou a sirene. E então fez um longo e interminável silêncio. Outra sirene tocou, seguida de mais alguns segundos em que não se ouvia nada, então bruno sentiu a vibração no solo, sob seus pés.

-Acabou – ele disse.

-É agora ou nunca.

Bruno e Gui ficaram aflitos, esperando que o encarregado aparecesse, mas ele não vinha. Eles começaram a se preocupar. Mas então, depois de intermináveis minutos de espera e agonia, o encarregado veio com uma caixa.

-Alá! Alá! Uma caixa, deve ter fragmentado toda!  -Bruno se animou.

Quando o encarregado chegou, ele tinha uma expressão estranha.

-Que foi?

O encarregado nada disse, apenas abriu a caixa e a caveira estava toda branca, coberta de poeira. Mas completamente, absolutamente intacta.

-Eu nunca vi algo assim na minha vida, garotos. – disse o homenzarrão, incrédulo, e manifestando até um pouco de medo daquela coisa. -Não posso fazer mais nada. Nem dinamite lascou isso aí!

Bruno e Gui agradeceram. Pegaram a caixa com a caveira dentro e voltaram para casa, cabisbaixos.

Ao chegarem no portão, uma surpresa. Seu Limair estava esperando por eles.

-Bruno, um homem esteve aqui e deixou uma coisa pro senhor.

-Coisa?

Seu Limair pegou debaixo do balcãozinho da portaria. Era uma caixa toda preta. Não havia nada escrito nela.

-Quem deixou isso?

-Um velho. Ele veio aqui, disse que era um amigo seu e que tinha uma coisa pra você.

Bruno abriu a caixa e encontrou uma coisa que só poderia ser descrita como um martelinho de prata. Ao lado um bilhete: “Use isso, depois jogue tudo no mar.”

O bilhete era assinado por “um amigo”, seguido de um simbolo que era um triângulo estranho de cabeça para baixo.

Bruno e Gui se entreolharam.

-Será o… Exu?

-Não sei. Só sei que eu vou usar essa porra.

-Cara se nem a dinamite não resolveu…

-O que a gente tem a perder?

Os dois foram até o playground do prédio do Bruno. Lá eles colocaram a caveira no chão.

Bruno se preparou com o martelinho de prata. Levantou aquilo no ar e bateu com toda força na caveira.

A melhor palavra para descrever o que aconteceu é uma só: Explodiu.

A caveira estourou em milhares de fragmentos de todos os tamanhos. Onde antes havia uma caveira, agora só restava o pó e milhares de pedaços que parecia rocha vitrificada.

-Acabou! Acabou! – Gui comemorou, abraçando Bruno.

-Não… Não acabou!- Disse Bruno, segurando o bilhete. -Falta jogar no mar.

Então os dois cuidadosamente recolheram todos os cacos. Jogaram tudo na caixa preta do martelinho.

Gui estava com o carro estacionado na rua e partiram com o bat-movel em direção ao Arpoador.

Lá, no alto da pedra Bruno lançou a caixa no ar. Ela se abriu com o vento e derramou a poeira de farelos de pedra como uma chuva de pequenos fragmentos no mar.

-Eu queria ver a cara do encarregado quando você espatifou ela.

-Pode crer.

-Ele com certeza ia comprar a roupa de baiana!

-Bom… Fizemos o que o “amigo” mandou. E agora? É isso? É apenas isso? Joga essa merda no mar e acabou?

-Acho que acabou.

Os dois voltaram até o carro e retornaram para casa. Bruno agradeceu a ajuda de Gui e subiu. Estava tarde e Gui voltou direto para sua casa.

Quando bruno ia entrando, seu Limair o chamou:

-Seu Bruno! Seu Bruno…

-Que foi?

-Eu… me desculpa, eu esqueci. Esse negócio aqui caiu da caixa quando o moço entregou e eu não vi!  – Disse o porteiro lhe estendendo uma coisa escura.

Era um envelope preto pequeno. Bruno abriu o envelope com curiosidade.

Dentro havia um bilhete de loteria. Um único jogo. Da MegaSena. Nele, estavam marcados apenas seis numeros.

Bruno começou a tremer. Algo dentro dele sabia o que aquilo significava. Ele sorriu e correu para casa para esperar o sorteio.

—-X—-

Muito, muito longe dali, a água gelada do mar se chocava cotra as pedras.  Um grupo de rapazes vinha caminhando na praia. Estavam indo a um luau. Um deles, vinha na frente, carregando seu violão nas costas. Ele foi o primeiro a vê-la. Correu até ela e pegou.

-Caramba…

-Que isso? – Perguntou uma menina.

-Maneiraça!

-Quem será que esculpiu isso? – Um deles perguntou.

-Deve ser algo indígena. Talvez.. da Atlântida. Algo que o mar devolveu.

-Só pode ser macumba.

-Nada, olha pra ela! Toda de pedra, perfeitamente polida…

-Certeza que isso não é natural. Alguém esculpiu essa caveira nessa pedra!

-Vou ficar com ela pra mim. Vou até fazer um altarzinho no meu quarto… – Disse o rapaz, olhando com admiração para a caveira de pedra sorridente em suas mãos.

FIM

 

 

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O post O crânio – Parte 13 foi criado no blog Mundo Gump.

Estupros coletivos e a barbárie

Posted: 27 May 2016 07:57 AM PDT

Tempo de leitura: 21 minutos

Ontem assim que entrei no facebook para falar com um amigo dei de cara com um post de uma conhecida dizendo que todos os homens são estupradores. 

Como eu estava acabando de chegar no fusuê que as redes sociais se tornaram ontem, não fazia a mínima ideia do que se tratava aquilo e me senti atraído por tal afirmação, afinal, que eu saiba, sou homem, e que eu saiba, nunca estuprei ninguém, nunca cantei mulher na rua, dei buzinadinhas, mexi no cabelo, forcei beijo em boate, nem porra nenhuma dessas coisas que tem gente que faz.

Assim, se do nada eu leio que alguém me considera estuprador porque nasci com o cromossomo que ela não considera o certo, deve haver algo errado.

Todos os homens são estupradores

É uma frase curiosa e taxativa, que me fez de cara refletir se Jesus Cristo poderia estuprar alguém. Ler isso quando você não é nem de longe o que se aproxima de um estuprador, é meio que ser chamado de alien, ou de Illuminati, ou de demônio. Mas apesar de ser até patético, não deixa de ser uma coisa ofensiva.

Mas por que algumas mulheres adeptas de um feminismo mais radical pensam isso? Elas pensam isso porque muitos homens se comportam na vida como monstros. E ser mulher não é nem um pouco fácil.

O caso foi movido pela terrível notícia de uma moça que após visitar o namorado (um zé droguinha como ela também era, de acordo com depoimentos de parentes) que liberou geral a garota dopada para os amigos do crime fazerem a festa, e a moça acordou sendo estuprada por trinta pleissons bandidecos armados. Pessoas de quinta categoria metidos a malvadões, que praticaram e filmaram um ato digno de figurar nos piores momentos da espécie humana. Se achando “os caras”, os projetos de gente publicaram o video na internet, causando uma verdadeira convulsão social das pessoas que ficaram estarrecidas com a barbárie. Logo, começou aquele clássico jogo de acusações e não me toques que caracterizam as redes sociais. Mas seja lá o que você pense sobre esse episódio detestável, uma coisa é fato:

As meninas jogam a vida em modo hard.

Não precisa ser muito esperto para reconhecer isso, basta ver que a sociedade é muito mais cruel com as mulheres do que é com os homens. Isso é algo que, apesar de estar mudando mais lentamente do que elas gostariam, é simplesmente um filme de terror existencial em certas sociedades. Em pleno ano de 2016, mulheres são estupradas diariamente no mundo, são apedrejadas em praça pública, e sofrem toda forma imaginável de discriminação sexual. Tem mulher que vai presa porque vaza foto no instagram sem estar usando xador (aquele lenço que a mulher tem que usar na cabeça no Irã).

O estupro, os macacos e a humanidade

Entre os inúmeros esqueletos do armário da espécie humana (entre outras) está esse ato condenável e horroroso que é o estupro. Infelizmente, essa atitude está presente na especie humana desde que nos conhecemos por gente e até antes disso. A desgraça não se restringe à humanidade.

Espécies de macacos praticam infanticídios e estupros também. Lontras machos procuram focas de porte juvenil e montam nelas, como se estivessem acasalando com uma lontra fêmea. Infelizmente, parte do processo de acasalamento envolve segurar a cabeça da fêmea sob a água, o que acaba por matar os filhotes de foca (e mais de 10% das lontras fêmeas). Por mais de uma hora e meia, a lontra macho segura o filhote de foca nesta posição, estuprando-o até que ele esteja morto. Às vezes, quando o filhote de foca morre, é apenas deixado de lado.  Algumas lontras, no entanto, ficam com o filhote morto e continuam estuprando seu cadáver em decomposição por até uma semana.

Em termos de estupros coletivos, os golfinhos a levam esse comportamento ao extremo. Golfinhos machos formam gangues, sequestram uma fêmea e depois se revezam a estuprá-la. E se não houver fêmeas, eles simplesmente agem como presos humanos: estupram um macho fraco.

Mas de todas as especies estupradoras do reino animal, a que mais parece com a nossa é a dos chimpanzés.

Apenas os chimpanzés e o homem, entre todas as 200 espécies de macacos e milhares de mamíferos estudados pelos cientistas, formam um tipo de comunidade chamado de patrilinear, no qual a figura do macho é dominante.

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Vê-se isso entre os chimpanzés, porque os filhotes do sexo masculino sempre permanecem no bando, depois da adolescência, enquanto as garotas têm de sair e procurar outro grupo de chimpanzés para acasalar e procriar. O resultado, do ponto de vista da agressividade, é que os machos tornam-se muito unidos. Claro que eles disputam o poder entre si. Mas, uma vez estabelecida a hierarquia dentro do bando, passam a defendê-lo com unhas e dentes dos vizinhos.

Eu já falei em posts anteriores aqui sobre a ilusória percepção de que nossos avanços enquanto espécie são lineares. Não evoluímos linearmente, mas sim de um modo absolutamente caótico e assimétrico. Enquanto agora eu escrevo para milhões de pessoas usando a tecnologia que envolve cabos submarinos, satélites e comunicação sem fio mandando sinais eletrônicos pelo ar, tem gente na idade da pedra no mesmo país que eu estou. Gente que não conhece a escrita, e cuja percepção de tempo e espaço é certamente diferente da que temos.  Há pessoas no meu convívio que ainda estão na idade das trevas, ou seja, atribuindo tudo de ruim que possa acontecer a divindades malignas e benignas. Há pessoas que acreditam piamente que o homem foi esculpido do barro, pois é o que está escrito nas escrituras e “não se pode acreditar em algo que não sejam as escrituras”. E essas pessoas muitas vezes falam isso na televisão.

Mas de volta aos estupros, eles são partes inseparáveis de nossa condição existencial. O lado mais detestável dela, provavelmente. Mas estão lá, nos livros de História, para qualquer um que queira dar uma olhada no assunto, que é de embrulhar qualquer estômago.  Um exemplo, são os estupros de guerra.

Os estupros de guerra são violações cometidas por soldados, outros combatentes ou civis durante conflitos armados ou as Guerras, ou durante uma ocupação militar qualquer.  Esse tipo de estupro é mais facilmente registrável, porque distingue-se das demais agressões sexuais e estupros endêmicos, já que se dão entre as tropas durante o serviço militar. Ele também abrange as situações em que as mulheres são forçadas a se prostituirem em escravidão sexual por uma potência ocupante, como no caso das “mulheres de conforto” japonesas durante a II Guerra Mundial.

Durante a guerra (todas elas)  o estupro é frequentemente utilizado como um meio da guerra psicológica, a fim de humilhar o inimigo e minar sua moral. Violações de guerra são muitas vezes sistemáticas e exaustivas, e os líderes militares podem realmente incentivar. As violações de guerra podem ocorrer em uma variedade de situações, incluindo escravidão sexual institucionalizada.  As violações de guerra também podem incluir estupros com objetos. Com base em uma prática generalizada e sistemática através de milênios, o estupro e escravidão sexual são agora reconhecidos pela Convenção de Genebra e Crimes Contra a Humanidade e Crimes de Guerra.

“Estou nessa pelas minas!”

É uma frase estranha, mas certamente ja foi proferida milhares de vezes entre soldados da antiguidade, afinal, mulher já foi moeda de pagamento de soldado, sabia?

Desde a antiguidade é costume, que numa guerra os homens são mortos, as crianças presas e vendidas, e as mulheres e meninas são estupradas e depois distribuídas entre os soldados como os outros objetos de espólios. Isso foi bem documentado nos autos da Guerra de Troia. Depois da conquista da cidade os soldados gregos dividiram as mulheres entre si. Outro exemplo famoso e legendário é o Rapto das sabinas.

Na Grécia e Roma Antigas, os exércitos foram envolvidos no estupro de guerra, o que é documentado por autores antigos, como Homero, Heródoto e Tito Lívio. As fontes antigas citam fora várias atitudes sobre a violência sexual na guerra, e seria até surpresa se isso também não aparecesse na Bíblia.

Aparece:

O estupro no decurso da guerra é mencionado várias vezes no livro sagrado do cristianismo:

“Porque eu ajuntarei todas as nações contra Jerusalém para a batalha, e a cidade será tomada, e as casas serão saqueadas, e as mulheres forçadas, e metade da cidade sairá para o cativeiro, mas o resto do povo não será extirpado da cidade … ” Zacarias, 14:02.

“As crianças vão estar na frente deles, as suas casas serão saqueadas e as suas mulheres violadas.” Isaías, 13:16

Mas nem sempre era com mulheres. Jovens mancebos também entravam na dança, o que provavelmente gerou o dito popular no qual se diz que “quem tem cu, tem medo”.

Oficiais militares romanos usavam frequentemente o estupro de jovens masculinos e femininos dos povos submetidos como poderosa arma de supressão. Tácito, o historiador romano, observou que esta ocorreu durante a Revolta dos batavos. E também o cristianismo não podia erradicar esse costume arraigado, já que é muito mais fácil para um general incentivar os soldados com a perspectiva de poderem espoliar, roubar e estuprar, levar objetos de alto valor e meninas bonitas como escravas, do que dar um bom salário, que custa caro a eles. Assim uma campanha vira uma aventura para os soldados, e eles sonham de bons espólios e estupros.

Entre os povos mais famosos pela fama horrenda de estupradores estão os Vikings. Que pilhavam e estupravam do final do século VIII ao início do século 11. E é daí que surge o termo BARBARIZAR.

Assim, historicamente os estupros de guerra vão sempre acompanhando o desenvolvimento humano como uma sombra taciturna de seu passado primitivo. Os estupros só começam efetivamente a se reduzir durante a Primeira Guerra Mundial, o que não significa necessariamente uma boa notícia para as mulheres, já que o estupro de guerra se reduz porque as nações cristãs tentaram manter certas regras e comportamentos tradicionais. Por isso, preferiam abastecer os soldados com prostitutas que o exército contratou livremente. Somente no final da guerra, quando tropas francesas com muitos soldados e mercenários de colônias fora da Europa ocupavam regiões da Alemanha, os estupros aconteciam em maior escala. Em compensação, na Segunda Guerra o estuprador deitou e rolou!

Segundo dados históricos da Guerra entre a Aliança e o Eixo, o estupro virou novamente uma arma sistemática para humilhar e aterrorizar a população. Os mais avançados nisso foram os japoneses, que na China e em outros países ocupados, estupravam em massa.

Um dos mais devastadores episódios de estupros coletivos da história foi registrado como “Massacre de Nanquim”,  onde moças amarradas nuas eram abusadas por muitos dias, e outras eram assassinadas através da horrenda pratica de serem estupradas com objetos.

Sabe o “cabo de vassoura do Capitão Nascimento?” Você acha que aquilo saiu da criatividade do autor? Não…
Durante a Guerra milhares de moças e meninas acabaram recrutadas, por meio de pressão de miséria ou mesmo à força, para servirem como prostitutas em prostíbulos para os soldados japoneses. Elas foram chamadas oficialmente de “Mulheres de conforto”, mas os soldados chamavam-nos como nomes pejorativos como “Vasos higienicos públicos”.

A ampla maioria ali foram forçadas e não receberam quase nada em troco todas as relações mantidas com elas são consideradas hoje como estupros formais. A falta completa de consciência culposa e consentimentos do lado dos japoneses mostram exemplos de soldados, que se fotografaram ao lado de moças chinesas nuas amarradas com as pernas abertas, e mandaram as fotografias com orgulho para os pais deles.

Note o eco comportamental com os pleissons bandidecos de hoje.

Note também que é um traço marcante da cultura oriental, sobretudo a japonesa onde o sexo é uma construção de um “teatro de poder”. Qualquer um que ja viu um filme pornô com japoneses vai notar a forma completamente diferente da mulher oriental se comportar no sexo. Elas agem como se estivessem sendo machucadas e violentadas. Seus gemidos não são de prazer e sim de dor. Tenho um amigo psicólogo que diz que “se a mulher do japonês demonstrar algum tesão explícito, o japonês broxa na hora”.

De volta à guerra, fica a questão:  Por que eles fazem isso? Porque a mulher foi e ainda é vista como um prêmio, um território a ser conquistado e controlado, ou mesmo como um objeto de satisfação que se usa e joga fora, descartável, e através do qual se constrói uma estrutura de poder. A fêmea arregaçada se torna o troféu pelo qual os machos se vangloriam de dominar. Eles não filmam e botam na internet porque são estúpidos. Eles o fazem porque para o macho primitivo, é irresistível a necessidade de se autoafirmar como o detentor do poder.

E é também por esta via que se explica por que tantos carinhas dão o detestável expediente de expor suas amigas, parceiras e namoradas na internet. É a exibição do troféu, a construção de seu tão desejado lugar de poder.

A mulher na história é objetificada como um mero elemento de condução do macho ao status de poder que ele deseja e que não consegue encontrar na sociedade. E curiosamente, na História, muitas vezes a condição feminina era tão, mas tão merda, que isso chegou a evitar estupros! 

Aconteceu na Segunda Guerra, com os soldados alemães. Eles não tiveram tanta liberdade, e até os próprios nazistas tinham que esconder suas perversões, uma vez que a maioria da população era do cristianismo, que não tolera atos sexuais fora do casamento sob qualquer pretexto, e também pelo fato que o próprio Hitler (monoegg) não era dado a sexo e nunca foi relatada uma participação dele. Aliás, pelo contrário, ele vivia muitas vezes em castidade e segundo várias biografias, teve supostamente tendências homosexuais.

Hummm. Sei.
Hummm. Sei.

Himmler reclamou e proibiu, que as moças e meninas judias na Ucrânia fossem estupradas antes de morrerem, mas não por sentimentos piedosos, mas por não querer fazer a felicidade dos rapazes ajudantes ucranianos que desejavam fizer orgia sexual antes das matanças.

Estupros de judias podiam ser punidas como infração à higiene racial. Mesmo assim aconteciam muitos estupros de soldados, e mais ainda pelas milícias nazistas na retaguarda do exército. Na contramão, os russos ao conquistarem a Alemanha no fim da guerra, deitaram e rolaram quando os generais liberaram temporariamente os estupros em ordem formal.

Sabe-se que pelos estupros em massa de mulheres alemãs pelo Exército Vermelho, foram afetadas 1.8 milhões de mulheres e meninas alemãs entre 3 e 96 anos de idade. Sim, nego estuprou vovozinha de quase CEM ANOS!

Tá enojado? E eu nem falei ainda dos Campos de estupros!

Como o nome já sugere, os “campos de estupros” são uma das piores coisas que a mente humana já pode conceber. Vamos entender qual o lance por trás de criar lugares para o estupro sistemático:

Em países muçulmanos os estupros são usados como arma velada, pois impedem o desenvolvimento da população do inimigo, já que nenhum muçulmano, por força religiosa, queria casar com uma moça estuprada e sem hímen. Os estupros foram, por exemplo, cometidos pelo exército de Paquistão contra Bangladesh na Guerra de Independência de Bangladesh, e depois da independência o governo de Bangladesh internou as moças estupradas em verdadeiros “campos de concentração” apenas para não humilhar a população com a convivência com moças estupradas solteiras e não aptas ao matrimônio. Ou seja:

– Foi estuprada? Se fode triplamente, e vai morar no campo de concentração! 

Hoje em dia, o estupro de presas em guerras é vergonhosamente permitido pelo Alcorão e é usado para legitimar o estupro de meninas de outras religiões, que vivem em países muçulmanos. Os estupradores muçulmanos alegam que se encontram em uma guerra santa, já que os EUA atacam muçulmanos no Afeganistão e outros países, e sob esse pretexto eles se dão ao direito de barbarizar, podem capturar e estuprar moças cristãs e de outras religiões.

As muçulmanas, por outro lado sofrem estupros porque se sabe que a consciência de que os muçulmanos não mais aceitam essas meninas, e isso contribuiu para a popularidade dos estupros entre os soldados sérvios. Eles levam as moças muitas vezes para campos de estupros, lugares fechados em que estupram-nas até engravidarem.

Esse exemplo ganhou popularidade e agora é imitado por muitos países africanos com guerras ou guerras civis como o Congo e Angola, entre outros.

Primitivos

Os estupros mostram que somos seres primitivos com um pequeno e muitas vezes volátil verniz de sofisticação social. Guerras, crises, bebedeiras, convulsões sociais ou qualquer merdinha que reúna as condições mais básicas para um descontrole, faz sair o bicho primitivo da alma humana. E esse bicho, quando liberado, não conhece limites.  Talvez seja daí que venha a ideia popularmente aceita entre as feministas mais exaltadas de que todo homem é um estuprador em potencial. 

De cara podemos dizer que essa frase não faz grande sentido, uma vez que somos na verdade, tudo em potencial. Todo ser humano é um assassino em potencial, até o momento que mata e se torna um assassino propriamente dito. O mesmo vale para um estuprador. Logo, um estuprador em potencial equivale a um NADA. E da mesma forma todo estuprador é uma pessoa normal em potencial, até a hora em que ele se revela para sua vítima.

As mulheres tem medo e a história nos mostra que elas estão certas. Ter medo é parte indissociável da condição humana. Se olharmos para tudo que nos trouxe até aqui, o bizarro é acreditar que se pode não ter medo, que se pode não temer pelo outro e pelas suas intenções. Isso é a suprema utopia, que a modernidade nos vendeu. A sensação de estabilidade. A estabilidade que basta um pouco de reflexão para vermos que é extremamente efêmera.

Daí surgem as sugestões para que as mulheres se protejam. Muitas vão ver isso pelo ponto de vista de mais uma prisão: A mulher não pode sair com qualquer roupa, não pode ser quem ela quer ser, porque deve temer um inimigo invisível que pode estar por trás de qualquer um. Do amigo ao parente mais amável. Qualquer um pode ser o monstro. Muitas mulheres vivem sob o que eu chamaria de “Síndrome do enigma de outro mundo”.  Lembra do filme? Qualquer um na base no pólo sul poderia ser o alien… Pronto para atacar e barbarizar sua vítima, assimilando-o e roubando sua condição de humano vivente.

Há um sem numero de mulheres que vive assim, e elas se juntam, se fortalecem em grupos, coletivos e montagens sociais diversas, formando uma pressão inédita em termos históricos contra o que chamam (apropriadamente) de “a cultura do estupro”. Deve ser terrível. Eu mesmo experimentei a sensação de ser um estuprador em potencial.

Não é legal estar no pseudopapel de algoz. Já contei aqui antes. Uma vez num ônibus, uma mulher cismou que eu estava de olho nela. Eu pude perceber muito claramente porque ela mal podia conter suas expressões faciais. Para piorar, descemos no mesmo ponto. Ela andando apressada à frente, e eu seguindo meu caminho atrás. Ela entrou num prédio, justamente o prédio que eu ia entrar! Ela pegou o elevador, justamente o elevador que eu ia pegar. A mulher estava quase chorando, desesperada e eu, o homem, o monstro capaz de roubar sua vitalidade, ali, imóvel, perplexo. Ela praticamente correu para dentro da clínica de ultrassonografia que… Para azar supremo dela ERA BEM ONDE EU IA!

Coitada. Tive pena. Não pude dizer nada. Certeza que se eu dissesse qualquer merda ali, nem que fosse perguntar as horas, ela ia dar um ataque. Ela não tinha como saber o quão Zé Ruela eu sou. Um sujeito que não tem coragem nem de perguntar as horas a uma mulher desconhecida com medo dela achar que estou dando em cima. Eu poderia mesmo ser um estuprador ou maníaco a persegui-la como num triller hollywoodiano. Não a culpo. Mas é certo que se essa dona tivesse uma arma, havia ali uma grande chance dela botar uma azeitona na minha empada.

A mulher foi adestrada a ver o mundo sob a ótica da presa. E não é uma sensação feliz de ser a presa. Isso é fato.

Eventos como o da festinha de estupro coletivo feita pelos 30 desgraçados que barbarizaram a menina só reforçam esse medo. E infelizmente, é um medo que se justifica plenamente.
Discordo que todo homem seja um estuprador. Mas concordo completamente que todo ser humano tem um monstro dentro de si só esperando uma brecha para sair. Isso é um fato e a má notícia é que ele JAMAIS vai mudar. Não se agarrem em fantasias utópicas de sociedades racionais perfeitas e equilibradas que isso não existe. Lute pela igualdade, exija respeito, mas reconheça os fatos: O monstro está lá, trancado, muitas vezes adormecido na escuridão da alma humana, só esperando o momento para sair e atacar. Saiba disso. Lide com isso.

É uma merda. A vida é uma merda.

 

 

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